Não vou mentir: há mais de um ano que só vejo filmes no cinema. Não me levem a mal esta confissão, até porque já tentei combater esta apatia cinematográfica de todas as formas. É fisicamente impossível — se por um lado sou uma consumidora ávida de séries, daquelas que veem tudo e mais alguma coisa que a Netflix lhes põe à frente, por outro parece que o meu cérebro desistiu do cinema.

A dor é real: parece que perdi a capacidade de me sentar no sofá e ver um filme do princípio ao fim. E no cinema o cenário só muda porque não tenho como fazer zapping, ou adormecer depois de ter pago 7€ por um bilhete. Feita a confissão, conseguem entender a falta de esperança com que comecei a ver “A Todos os Rapazes que Amei”, uma das estreias mais recentes na Netflix. Daqui a cinco minutos já estarei a dormir, pensei.

Não estava. Mas já lá vamos.

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Nos últimos dias não se fala noutra coisa senão neste filme. Por cá, o hype parece meio adormecido, mas lá fora a crítica desfaz-se em elogios e a imprensa não larga os atores. O Vox chamou-lhe a melhor comédia romântica de adolescentes da última década, a Vulture "um romance adolescente doce e espirituoso". No Rotten Tomatoes tem 4,6 em 5. Tudo isto por um filme para adolescentes.

A história de “A Todos os Rapazes que Amei”

Inspirado no livro homónimo da autora norte-americana Jenny Han, publicado em 2014, a história tem como protagonista Lara Jean (Lana Condor). Ela é uma jovem doce, bem-disposta e espevitada, que tem pavor de se entregar às pessoas com receio de as perder. Isto faz com que seja invisível, tenha poucos amigos e passe os sábados à noite a ver uma maratona de "Sarilhos Com Elas" com a irmã mais nova.

Só que tudo muda quando alguém descobre as cartas de amor que esconde numa caixa de chapéu verde-azulada que a mãe lhe ofereceu — e decide enviá-las aos respetivos destinatários. São cinco ao todo, e vão provocar uma reviravolta alucinante na vida de Lara Jean.

O filme é realizado por Susan Johnson, e a adaptação do argumento ficou a cargo de Sofia Alvarez.

Este é mesmo o filme mais fofo na Netflix

“A Todos os Rapazes que Amei” nunca será nomeado para o Óscar de Melhor Filme. Não é digno de ser comparado com outros grandes filmes que estiveram no cinema nos últimos tempos, e é muito difícil que alguma vez se torne num clássico. Só que é uma daquelas obras que nos deixam arrebatados logo nos primeiros minutos.

Esqueçam a parte de ser um filme para adolescentes se isso vos fizer pensar em "Crepúsculo" ou "A Melodia do Adeus". Eles são os protagonistas desta história, é verdade, mas o enredo, as personagens e a narrativa são tão poderosas que fazem com que qualquer pessoa se identifique com ela — tenha 16 ou 30 anos.

Eu lembro-me de escrever cartas às minhas paixonetas não correspondidas. Como eu, Lara Jean e tantos outros adolescentes, esta era uma forma de deitar cá para fora um sentimento que, naquela altura, parecia ser o mais forte e intenso do mundo. Também é fácil perceber o medo que ela sentia de se envolver com alguém, receando o dia em que a perderia. Quem nunca, não é verdade?

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É esse sentimento de identificação que nos faz querer continuar a ver mais e mais. O elenco, a realização e a história fazem o resto. De destacar ainda a química inacreditável dos atores, seja entre o par romântico como entre as irmãs de Lara Jean. O meu único problema foi com Janel Parrish, que continuo a associar a "Pretty Little Liars". Admito que estava constantemente à espera que ela tirasse uma faca do bolso e começasse a matar toda a gente. Spoiler alert: podem ficar descansados, isso nunca acontece.

Uma última nota. “A Todos os Rapazes que Amei” não está livre de clichés — eles estão lá em força, é verdade, desde o namoro que começa por ser uma farsa até à miúda mais popular da escola que é uma víbora. Só que depois vai muito além disso. Temos uma protagonista que é de ascendência asiática, uma protagonista que é tímida mas não é a típica "falhada" da escola com quem toda a gente goza. A relação entre as irmãs é poderosa, e a paixoneta de Lara Jean pelo namorado da irmã é uma trama explorada com cuidado e emoção.

Além disso, vamos ser sinceros: "10 Coisas que eu Odeio em Ti", "Juno" e "De Repente já nos 30" também têm os seus clichés. E não é por isso que deixam de ser incríveis.

“A Todos os Rapazes que Amei” é o filme mais fofo e doce da Netflix. Não me canso de repetir isto porque estas são, de facto, as melhores palavras para o descrever. Já fazia falta uma comédia romântica que não nos desse vontade de bater com a cabeça contra a parede e debater o estado a que chegou o género cinematográfico. Por favor, que venham mais filmes assim. Até lá, eu prometo que vou continuar a lutar contra a minha apatia cinematográfica — só têm de me desculpar se voltar a meter “A Todos os Rapazes que Amei” na lista dos filmes a (re)ver.

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