Andámos anos a ignorar o óbvio. Afinal, é tão mais prático ter só um caixote em casa, em vez da chatice de dividir o lixo em três cores. Assim como é mais fácil — e mais giro para as fotos das redes sociais — beber um cocktail com uma palhinha colorida a sair de um copo, muitas vezes ele também de plástico. E que prático que é ir às compras sem nada nas mãos e lá fazer-se valer do rolo de sacos plásticos para pôr os tomates num saco separado dos pepinos, ainda que os dois acabem juntos num gaspacho.

Mas contra factos não há argumentos, muito menos aqueles que defendem aquilo que não tem defesa possível. Todos os anos são lançados nos oceanos cerca de oito milhões de toneladas de lixo plástico e seus derivados. Prevê-se ainda que em 2050 a quantidade de lixo seja superior ao número de peixes.

Portugal bem tentou assobiar para o lado e empurrar as culpas para um Donald Trump, Pesidente dos Estados Unidos, que não acredita em alterações climáticas ou para uma Ásia ainda pouco habituada à reciclagem. Mas convenhamos, há 20 anos já o Gervásio sabia reciclar e nós por cá, ainda que com os números da reciclagem a aumentar, estamos longe da perfeição: 70% do lixo encontrado nas nossas praias é plástico.

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Foram precisos números como estes, imagens de pássaros envoltos em plástico e documentários de choque para que Portugal percebesse que, tal como faz parte do problema, também tem que fazer parte da solução. Vai daí que, agora, a luta seja feita em várias frentes. De tal forma que sentimos a necessidade de parar e fazer um apanhado de tudo que está a mudar no País para ver reverter a ideia fatalista de que vamos ter um mundo mergulhado em plástico.

Cascais e Lisboa a dar o exemplo

A câmara de Cascais foi a primeira a chegar-se à frente ao anunciar que pôs fim à utilização de plástico no consumo de água e retirar assim de circulação meio milhão de garrafas de plástico.

Lisboa não quis ficar atrás e deu um passo ainda mais ambicioso: os copos de plástico vão ser banidos da cidade até 2020. Pelo menos é a isto que a câmara se propõe, tendo em conta que se prepara para ser Capital Verde Europeia. Ainda neste segmento sustentável, está previsto que parte dos autocarros sejam movidos a energia solar e que os parques sejam lavados e regados com água reutilizada.

Restaurantes amigos do ambiente

Por cá já escrevemos sobre isso, mas a verdade é que desde a data deste artigo, já muito se fez de novo.

A Santini, por exemplo, passou a disponibilizar embalagens de cortiça para take away, uma alternativa mais sustentável, não só pelo material escolhido, mas também porque pode ser utilizada várias vezes, sempre que o cliente for à loja comprar gelado. A partir da segunda utilização com a mesma caixa de cortiça, a marca oferece um desconto de um euro.

Já na nova pizzaria do Bairro Alto, a Valdo Gatti, além de uma aposta em produtos biológicos, nota-se um cuidado especial com o uso de plástico. A água é da torneira e, depois de filtrada, é servida em garrafas de vidro. Palhinhas só a pedido e, mesmo assim, são feitas de material biodegradável.

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A um nível mais internacional, mas que chegará também às lojas portuguesas, a Starbucks anunciou que vai acabar com as palhinhas de plástico nas suas mais de 28 mil lojas até 2020. Para tal, a empresa desenvolveu uma nova tampa de plástico para as suas bebidas geladas que, segundo a companhia, permitirá eliminar o uso de mais de mil milhões de palhinhas todos os anos.

Ir às compras com sacos de pano

Ainda há quem olhe com estranheza para quem vá precavido de casa e leve os seus próprios sacos para comprar legumes e fruta. E há até relatos de quem se viu impedido de encher tupperwares no take away dos supermercados ou até de quem teve dificuldade em que deixassem pesar os produtos fora dos tradicionais sacos de plástico.

Mas a verdade é que são cada vez mais os espaços que não só permitem como facilitam a utilização de soluções mais sustentáveis. Na Maria Granel, por exemplo, além de ser tudo a granel, tal como indicia o nome, é possível levar de casa os frascos para encher, sendo descontado o peso extra no preço final. Além disso, a loja abriu um segundo oásis de sustentabilidade, desta vez em Campo de Ourique, onde consegue agora dedicar um andar apenas e só a produtos zero desperdício. Por lá é possível comprar escovas de dentes de bambu, copos menstruais, discos desmaquilhantes laváveis, garrafas, termos e recipientes para comida reutilizáveis e palhinhas de inox.

Os sacos de pano ou de rede para as compras são uma boa alternativa ao uso de sacos de plástico

Numa versão online, há a Mind the Trash, a primeira loja online portuguesa totalmente dedicada às alternativas aos produtos de plástico e não naturais. Além de cosmética orgânica, no site é possível encontrar soluções sustentáveis para a cozinha, como talheres de madeira ou palhinhas de bambu, ou, já na secção de casa e banho, aparelhos de barbear que servem de alternativa às giletes descartáveis e pensos menstruais reutilizáveis.

Mesmo nas grandes superfícies, as notícias começam a ser animadoras. Dados recentes mostram que as grandes cadeias de supermercado têm vindo a reduzir o uso de plástico. A Auchan, por exemplo, fixou o objetivo de acabar com os plásticos de utilização única e procura alternativas para cumpri-lo, como a introdução de um saco em papel, a utilização de embalagens reutilizáveis para encher na loja ou a aposta nas vendas a granel.

O Lidl compromete-se a reduzir em 20% a utilização de plástico até 2025 e já a partir deste mês entra em vigor a primeira medida: descontinuar o sortido dos artigos de plástico descartável, como copos e pratos. Além disso, pôs à venda uma linha de loiça feita à base de fibras de bambu e copos para café e chá reutilizáveis, feitos de cortiça.

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E mesmo com cada um dos supermercados a tomar a iniciativa, o governo anunciou recentemente uma medida que pode ajudar aqueles que sentem que viver num mundo mais sustentável não é recompensa suficiente: vão ser instaladas unidades de recolha de plástico nos supermercados e o peso que o consumidor entregar será depois convertido em senhas de compras nesses mesmos estabelecimentos.

Festivais de música e de (bom) ambiente

No OutJazz, que durante o verão vai ocupando os vários jardins de Lisboa, já há muito que palhinhas nem vê-las e as bebidas, essas, só são servidas em copos à venda nos stands oficiais, com a certeza de que podem (e devem) ser reutilizados no mesmo dia, no domingo seguinte e até no festival do próximo ano.

São lançados anualmente nos oceanos cerca de oito milhões de toneladas de lixo plástico

Já do Boom, habitualmente reduzido — e de forma errada, acrescentamos nós — a um festival de droga e transe, têm vindo a sair medidas dignas de dar o exemplo a todos os outros. Toda a loiça utilizada na zona da restauração, bem como nos bares, é biodegradável e estão disponíveis centenas de casas de banho de compostagem, onde não são usados químicos nem se desperdiça água.

O Bons Sons segue este alinhamento amigo do ambiente e disponibiliza uma alternativa aos tradicionais recipientes descartáveis: pratos de base biológica feitos a partir de farelo de trigo que, além de biodegradável, são também comestíveis. As casas de banho também são ecológicas e a organização convida os visitantes a preferir os transportes públicos para chegar ao recinto, disponibilizando serviços de transfer regulares.