Há coisas em que não há consensos possíveis. No frango assado, por exemplo, jamais se irá convencer um amante do frango da Valenciana, em Campolide, Lisboa, que o do Rio de Mel, em Alvalade, é melhor. Não vale a pena a discussão. Cada um fica com a sua, e amigos como dantes. Com as praias é mais ou menos a mesma coisa. Uns gostam de ondas, outros de areais grandes, há quem goste de praias desertas, outros preferem um bom restaurante de praia, há os que têm recordações que valem para a vida, outros que conhecem aquele mar desde sempre e nunca o irão trocar. Por tudo isto, a MAGG criou o desafio Guerra de Praias, que durará ao longo dos meses de julho e agosto. A ideia é que os vários colaboradores da MAGG defendam, com unhas, dentes e facas afiadas, todas as segundas e sextas-feiras, aquela que é, para cada um, a melhor praia do mundo, a praia da sua vida. Os argumentos vinculam cada um dos autores. Depois da Praia da Ribeira do Cavalo, é a vez do jornalista Fábio Martins fugir ao que tem vindo a ser habitual e explicar porque é que não gosta de praia e, por isso, não tem uma que considere ser a melhor do mundo. Aqui vai:

A minha relação com a praia é a mesma com os filmes do realizador norte-americano Wes Anderson ("Ilha dos Cães"). Entendo o conceito e até percebo a adesão de tanta gente mas, no final, vejo que aquilo não é para mim. E a verdade é que o único filme que vi do realizador (e deixei a meio) foi o "Grand Budapest Hotel".

De igual forma, já estamos em agosto e ainda não fui à praia uma única vez. Falta de tempo? É mais falta de vontade. Mas não me interpretem mal: o conceito de praia fascina-me imenso, de verdade. As ondas, o mar e as rochas são todos aqueles elementos que ficam sempre bem numa imagem, seja uma fotografia bem tirada para o Instagram ou uma imagem de fundo para o computador.

A ideia de ir à praia é que já mexe muito com o meu sistema nervoso. É que estar durante não sei quantas horas deitado numa toalha a existir e a torrar ao sol parece-me uma completa perda de tempo.

Guerra de Praias #09. A praia da Nazaré é  a melhor do mundo
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Por não suportar o calor, transformo-me naquele tipo de pessoa que passa grande parte do tempo debaixo do chapéu, à sombra, a ler um livro ou uma revista. E podemos falar do quão desconfortável é essa atividade?

A areia não ajuda, faz buracos, magoa, mete-se em tudo o que é sítio e obriga-nos a todo um role de posições esquisitas que geralmente resultam em livros demasiado dobrados, braços doridos, dores de pescoço e um eventual escaldão. A solução é levar uma daquelas cadeirinhas para a areia, mas ninguém quer ser essa pessoa na praia.

Mas tudo piora quando decido que é altura de fazer aquilo que qualquer pessoa normal faz quando chega à praia: ir à água. O que encontro é mar gelado, geralmente com muitas ondas, e repleto de algas, rochas, alforrecas e outros seres aquáticos que eu prefiro não saber que existem.

O banho dura uns minutos (é mergulhar e sair, literalmente) e no caminho de regresso para a toalha há duas situações prováveis de acontecer: ser apanhado no meio de uma batalha de areia entre miúdos, ou ser confrontado por algum brutamontes que acha que a melhor maneira de entrar na água é levar toda a gente à frente — mesmo aquelas que estão, lentamente, a tentar ambientar-se à temperatura do mar.

Tudo isto revela-se um desafio enorme quando o meu objetivo é voltar à toalha sem o máximo de areia possível no corpo. Já a secar, o desafio é outro: rezar muitas vezes para que uma qualquer criança fofinha, de balde de areia e ancinho em riste, não tropece e mande tudo para cima de mim.

Guerra de Praias #10. A Praia da Ribeira do Cavalo é a melhor do mundo
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Mas o melhor ainda é quando as praias estão cheias de gente. Ah, quem não gosta de assistir a uma conversa de um grupo de amigos aos gritos sobre as aventuras da noite anterior? Ou de sentir aquele cheirinho a frango assado ou a cozido à portuguesa do vizinho do lado que acha que continua a ser aceitável fazer um banquete na areia? Ou de ter de pedir licença para mexer o dedo mindinho do pé?

Admito que grande parte destas situações também possam acontecer em piscinas, mas nas praias estou geralmente mais intolerante e sem grande paciência para lidar com tudo o que me incomoda. Precisamente porque, ao contrário das piscinas, é um meio que não me atrai em nada.

E se não mostro excitação ou divertimento numa ida ao banho, por exemplo, sou catalogado de avô. É quase como se tivesse de fazer aquilo que os outros acham que é divertido e, se não o fizer, sou eu quem está mal. Nas piscinas tudo é diferente — a água doce, calma, e sem seres estranhos para me morder ou picar os pés e já um ótimo ponto de partida para me divertir e relaxar.

São só opiniões, mas não me queiram convencer que estar na praia quando há imenso vento é fixe. É que ser um croquete não é coisa que ache particularmente engraçada, especialmente no pico do verão.