Estreou no início de julho e a crítica já considera "Sharp Objects", do canal norte-americano HBO, uma das séries candidatas a melhor série do ano. A história é baseada no livro de Gillian Flynn, a mesma autora que assinou "Em Parte Incerta", e acompanha uma jornalista norte-americana, Camille (Amy Adams) que é obrigada a regressar à sua cidade natal, em Missouri, nos EUA, para cobrir um estranho assassinato e o desaparecimento de uma rapariga.

O problema é que, durante a investigação, a repórter tem de enfrentar os seus demónios e toda as memórias de uma infância perturbada e muito complicada, marcada por episódios recorrentes de automutilação premeditada. Tudo piora quando, na pequena cidade que abandonou, todas as personagens a tratam quase como que uma criminosa por ter decidido fugir de lá.

Devido ao ritmo lento, repleto de tensão e de boas performances (em especial de Amy Adams), as comparações com "True Detective", outra série clássica da HBO, são inevitáveis. Mas aqueles que leram o livro de Gillian Flynn poderão estranhar a ausência de alguns elementos, ou até a adição de novas personagens ou linhas temporais que não existiam no texto original.

Reunimos as cinco grandes diferenças entre o livro e a série que não terá continuação depois do oitavo, e último episódio, a estrear a 26 de agosto nos EUA.

A reabilitação de Camille é mais explorada na série

Grande parte do terceiro episódio da série é dedicado ao passado de Camille e ao que lhe acontece depois de internada, de forma voluntária, num centro de reabilitação psiquiátrica depois de vários anos de automutilação. Na série, também é dada ênfase às memorias da personagem que durante a adolescência criou uma relação de proximidade com a sua colega de quarto no centro de reabilitação — Alice (Sydney Sweeney), que no livro raramente é mencionada.

As recordações acontecem em formato de flashback e mostram como a vida de Camille muda completamente quando a colega e amiga se suicida. No livro, a relação de ambas as personagens parece muito distante e nunca é dada uma descrição detalhada de como foi a recuperação de Camille.

Maior atenção à infância de Camille na série

No livro há vários momentos que descrevem o processo de reflexão de Camille para tentar perceber os motivos que a levaram a ser tão infeliz desde criança. Mas é na série, através dos flashbacks recorrentes, que os espectadores têm acesso a toda a narrativa sem filtros. Especialmente num dos episódios mais fortes até agora, em que acompanha, em jeito de flashback, o velório da irmã mais nova de Camille — que a levou a um esgotamento nervoso em plena cerimónia.

Durante o velório, Camille tenta limpar o batom do corpo da irmã, ao ponto de ser levada à força pelos familiares e amigos de família. Tudo isto enquanto grita, chora e se esperneia pelo ar. A série da HBO explora também as traumáticas experiências sexuais da personagem e a sua frustração por não saber quem é o seu pai biológico.

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A série tenta explicar a relação bizarra entre Alan e Adora

No livro, Alan Crellin (Henry Czerny), padrasto de Camille, é apresentado como um homem calmo e capaz de fazer tudo o que está ao seu alcance para agradar à mulher, Adora (Patricia Clarkson), mas sempre com o intuito de beneficiar das suas ações. Tendo em conta que toda a história do livro é contada pela perspetiva de Camille, o leitor nunca tem acesso a uma outra versão dos factos, mas é na série que se confirma aquilo que muitos suspeitavam.

Na série da HBO, Camille mostra-se claramente repugnada com a falta de intimidade entre a mãe e o padrasto e com algumas das cenas que ambos protagonizam. Mas não se fica por aqui, e a série vai mais além ao mostrar como a relação das duas personagens é muito conflituosa e conturbada, o que terá contribuído para que Camile os tenha abandonado.

Há mais trabalho de detetive e de investigação na série

Visto que Camille é uma jornalista enviada à sua cidade natal para cobrir os casos de desaparecimento e assassinato na região, seria de esperar que no livro houvesse mais situações de investigação que envolvessem a personagem principal e os agentes da polícia envolvidos. Mas a verdade é que isso só acontece em maior detalhe na série de televisão, muito devido ao papel de Chris Messina ("Argo") que dá vida ao detetive Richard Willis.

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Uma cena muito importante do livro foi completamente alterada na série — mas há uma explicação

No funeral de Natalie (Jessica Treska), Camille rasga um pedaço do vestido negro que estava a usar e foge da igreja onde estava a decorrer a cerimónia. Esta cena não só não faz parte da história original, como parece não fazer muito sentido. Mas tudo é explicado no final do episódio quando a personagem surge a coser o vestido que rasgara momentos antes, e usa a agulha para se espetar num dedo — o que mostra o seu desejo de se continuar a mutilar de forma voluntária e premeditada.