Cada vez há mais razões para acreditarmos que “nós somos o que comemos”. O verdadeiro problema é resistir aos alimentos que nos fazem sentir bem e que contêm um velho inimigo: o açúcar.

Já todos sabemos que o consumo exagerado de doces e de comida processada contribui para problemas como obesidade e diabetes tipo 2. No entanto, nem sempre se dá a devida atenção ao impacto que o açúcar pode ter na saúde mental.

Sarah Wilson, jornalista e autora bestseller do The New York Times de livros como “I Quit Sugar” e “The Anti-Anxiety Diet”, decidiu eliminar por completo os açúcares da sua alimentação.

O que a levou a tomar esta decisão drástica? Uma doença auto-imune (Tiroidite de Hashimoto) que lhe causava mau estar e ansiedade no dia a dia. Na esperança de aliviar a inflamação na tiróide, Sarah recorreu a esta mudança que afirma ter-lhe mudado a vida. No seu site oficial, escreve que “eliminar o açúcar afetou a minha ansiedade baixando o volume dramaticamente. Hoje em dia, se eu comer açúcar a minha ansiedade dispara, ou seja, a ansiedade faz-me desejar açúcar, o que é cruel.” No jornal britânico “The Independent”, Sarah refere que “é através da conexão entre o estômago e o nosso cérebro que vamos compreender melhor a ansiedade e depressão”.

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A propósito do testemunho da jornalista australiana, a MAGG falou com um nutricionista para tirar todas as dúvidas.

O consumo de açúcar e a ansiedade estão relacionados?

Diogo Massano, Membro da Ordem dos Nutricionistas, afirma que "não se pode dizer que exista uma relação direta entre o consumo de açúcar e o aparecimento de episódios de ansiedade. A ansiedade está ligada à nossa saúde mental e psicológica, como tal, existem vários fatores externos como o trabalho, relações familiares e amorosas e o ambiente sócio económico em que estamos inseridos, que poderão espoletar episódios de ansiedade sem qualquer ligação com a ingestão alimentar." Acrescenta ainda que "estudos recentes comprovaram que pessoas com maior ingestão de açúcar não apresentavam maiores incidência de episódios de ansiedade".

De que forma pode o açúcar influenciar a ansiedade?

É aqui que entra a dopamina (a "molécula da motivação") e a serotonina (a "molécula da felicidade"), duas hormonas produzidas pelo cérebro, que são responsáveis por nos fazer sentir bem, confiantes e positivos. No entanto, quando os níveis se encontram em baixo, podem-nos deixar tristes ou até mesmo deprimidos, surgindo uma "fome emocional caracterizada por gulas vorazes maioritariamente por açúcar ou produtos açucarados". Isto acontece devido ao facto de o açúcar promover um aumento rápido da concentração destas duas hormonas.

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Diogo Massano diz que o açúcar "não é uma causa de ansiedade mas que, para alguém que consuma muitos alimentos ricos em açúcar, a sua abstinência poderá potenciar todos os sintomas inerentes à ansiedade como a agitação, medo, dificuldade de concentração e nervosismo." Há ainda o facto de o açúcar ser considerado "a droga do século XXI, por isso, tal como todas as outras drogas, causa dependência e vício pela resposta que o nosso corpo dá ao seu consumo."

Como aumentar os níveis de dopamina e serotonina?

Se sentir vontade de comer doces, há alimentos mais saudáveis que podem aumentar os níveis de dopamina e serotonina. Quanto ao primeiro, é recomendado o consumo de alimentos ricos em triptofano (substância fundamental para a produção de serotonina) – tais como ovos, queijo, ananás, tofu, salmão, nozes, e peru. Quando ao segundo, é recomendado o consumo de alimentos ricos em tirosina, tal como, amêndoas, sementes de sésamo e abóbora, produtos de soja, peru e frango.

No entanto, a prática de atividade física e a meditação regular podem também estimular a produção de ambas as hormonas no corpo, aliviando assim estados de tensão e melhorando a qualidade do sono.

Qual é a quantidade de açúcar que se pode ingerir por dia?

Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), é recomendado que o consumo de açúcar livre ou escondido em produtos alimentares — sumos, bolos, entre outros — não deva exceder os 50g diários. No entanto este não é um valor fixo, tendo em conta que a ingestão calórica diária varia de pessoa para pessoa, consoante a sua altura, peso, idade e atividade física.

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Como podemos eliminar o açúcar no dia a dia?

Como qualquer outro vício, a eliminação do açúcar deve ser feita de forma gradual de modo a que o corpo se vá adaptando. Diogo Massano deixou-nos ainda alguns conselhos para uma vida mais saudável:

  • Comece por reduzir o açúcar que coloca no café até conseguir beber sem açúcar;
  • Evite refrigerantes e néctares, optando por sumos 100% naturais que apenas contêm o açúcar presente nos alimentos;
  • Evite molhos industrializados, como os ketchups e as polpas de tomate, optando por utilizar tomate natural nas confeções;
  • Evite refeições processadas ou de fast-food, optando por realizar as refeições em casa com maior controlo sobre os alimentos utilizados;
  • Leia sempre os rótulos e não se deixe enganar por embalagens bonitas ou com palavras destacadas como "light" ou "0%". Por vezes escondem açúcar de que não nos apercebemos;
  • Pratique atividade física, que estimula a produção de serotonina e dopamina no cérebro, contribuindo para o aumento da nossa sensação de prazer e bem-estar.

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