Há coisas em que não há consensos possíveis. No frango assado, por exemplo, jamais se irá convencer um amante do frango da Valenciana, em Campolide, Lisboa, que o do Pingo de Mel, em Alvalade, é melhor. Não vale a pena a discussão. Cada um fica com a sua, e amigos como dantes. Com as praias é mais ou menos a mesma coisa. Uns gostam de ondas, outros de areais grandes, há quem goste de praias desertas, outros preferem um bom restaurante de praia, há os que têm recordações que valem para a vida, outros que conhecem aquele mar desde sempre e nunca o irão trocar. Por tudo isto, a MAGG criou o desafio Guerra de Praias, que durará ao longo dos meses de julho e agosto. A ideia é que os vários colaboradores da MAGG defendam, com unhas, dentes e facas afiadas, todas as segundas e sextas-feiras, aquela que é, para cada um, a melhor praia do mundo, a praia da sua vida. Os argumentos vinculam cada um dos autores. Depois da praia do Castelejo e da Comporta, seguimos para a preferida da jornalista Ana Luísa Bernardino.

O areal está longe de ser extenso, o mar está a léguas de ser calmo. É linda, mas também não é a mais bonita de Portugal. “Ó Ana, mas que bela forma de defender uma praia. Então não era a melhor do mundo?”, perguntam vocês. Pronto, eu admito: decidi começar por aqui, com a esperança de que não leiam até ao fim e não descubram o segredo mais bem guardado de Portugal.

A Praia da Foz, uma das menos conhecidas do Meco, fica logo depois das Bicas, é um mundo à parte, mas que só fica a 40 minutos de Lisboa, uma das grandes vantagens. Mas há melhor. Este sítio tem uma particularidade única, que me assegura sempre os dias mais bem passados, mesmo quando há nuvens, um céu nebulado e condições pouco propícias a banhos de sol e de mar — como tem, aliás, acontecido nesta bizarra época balnear de 2018.

Aqui vai. Preparados? Bora lá. Na Praia da Foz nunca há vento. Sabem o que significa nunca? É mesmo nunca. Pode estar um vendaval, um furacão, um tufão no resto do País, que neste pequeno e simpático areal, protegido por dunas e rochas, não corre uma brisa. Os chapéus de sol não mexem, a areia nunca levanta. Cria-se aqui um efeito estufa, o que faz com que haja sempre calor. Pode nem vos parecer assim tão incrível, mas garanto-vos que experienciar o melhor dia de praia, no pior dia de verão, é absolutamente incrível. É aqui que faço praia, mesmo quando sei que tenho de ir e voltar no mesmo dia. Não apanho trânsito, só demoro 40 minutos a chegar,  e sei que, mesmo com o céu mais escuro, vai haver calor e não vai estar vento — mesmo que nas outras esteja impossível. Nunca falha.

Ao passarem de carro, é possível que não dêem por ela. A entrada faz-se por aqui. Até chegar ao areal, é preciso atravessar umas rochas

Que outras vantagens encontramos aqui? Como o mar não é propriamente amigo das gentes, sabemos que haverá sempre espaço na areia para mais uma toalha. Além disso, e perdoem-me mães e pais deste mundo, não há crianças a gritar, a chorar, a correr, a atirarem-nos areia para a toalha ou jatos de água para o corpo, à beira-mar. A praia é frequentada sobretudo por pessoas que vão para o Meco há muitos anos, ou por pessoas que vivem naquele concelho. O racio entre a população e quantidade de areia é perfeito e nunca me desiludiu.

Guerra de Praias #01. A Praia do Castelejo é a melhor do mundo
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Aconselha-se a quem não conhece o mar que não mergulhe. Há uma outra forma para tomar banhos e que não coloca a vida em risco. Foram as minhas amigas que me ensinaram: levem um balde para encherem de água, despejarem em cima do corpo e refrescarem-se, à beira-mar. Não, não vão fazer figura de totós. Na verdade, é ao contrário: vão ser os mais fixes da praia, e toda a gente vai admirar-vos e pedir-vos o objeto emprestado.

Somamos a isto, a sensação into the wild: não há bares, cafés ou casas de banho públicas. Só há mar, areia, dunas e rochas e, com sorte, é possível que avistem um pato marinho a nadar feliz da vida dentro de água. É perfeita para estar longas horas com os amigos — daqueles dias em que se fica até ao pôr-do-sol —, de preferência com uma geleira com minis, vinho branco para os mais chiques, frutas e petiscos variados (grelhador, mesas e cadeiras não, por favor, há limites).

Garante-me sempre bom tempo, espaço, calma e muito boas energias. A Praia da Foz não é a mais bonita de Portugal, mas é perfeita — e a melhor do mundo.

(Nota: não posso dar as coordenadas, sob pena de me expulsarem da praia. Mas já dei muitas pistas. Não vai ser dificil encontrar.)