Era sexta-feira. Cheguei pouco depois de meia-noite à Pousada do Infante, em Sagres. Vinha com uma semana de trabalho às costas e a esta juntaram-se o caos do trânsito da saída de Lisboa no primeiro fim de semana de julho e os 328 quilómetros que tiveram de ser percorridos para chegar à vila do concelho de Vila do Bispo. Feito o check-in, entrei no quarto, larguei as minhas coisas e atirei-me para a cama, sem pensar em mais nada. Desliguei o cérebro e dormi profundamente. Mas já suspeitava: o breu da paisagem da varanda e o barulho das ondas davam a entender que o mar estaria praticamente à distância de um mergulho.

E assim foi. Acordei, pus os pés fora da cama e fui despertada, não pela habitual caneca de café, mas pela imagem que me apareceu assim que deslizei os cortinados. Era de cair para o lado: à minha frente, tinha o postal mais bonito de Portugal. A vista era panorâmica e incluía o mar — com um horizonte sem fim —, a fortaleza de Sagres, o Cabo de São Vicente e a praia da Mareta.

A imagem é bonita, mas a realidade é milhares de vezes melhor

O que é que a Pousada do Infante tem?

A Pousada do Infante é inaugurada em 1963. Foi construida por ordem de Salazar para celebrar o centenário da morte do Infante D. Henrique — responsável pela reconstrução desta vila, depois de tempos em ruínas e abandono —, a quem foi oferecida pelo irmão e regente D. Pedro.

Parte dos Pestana Charming Hotels (o grupo hoteleiro que ganhou o concurso para a exploração das Pousadas de Portugal), tem 51 quartos, divididos em quatro tipologias: pousada, superior, superior vista mar e suite especial. Há ainda quatro salas de estar, um restaurante e um bar.

Soubemos que a pousada estava com a capacidade esgotada, mas não havia sinal de pessoas. Faz sentido. Há praias incríveis a poucos quilómetros de distância e um sem-número de atividades disponíveis e de fácil acesso pelas parcerias estabelecidas entre a pousada e as empresas locais. É importante fazer a distinção: uma pousada não pretende funcionar como um resort. Ou seja, deve ser um local onde se procura conforto, mas não faz parte da sua missão entreter os hóspedes o tempo todo. Ainda assim, há uma boa piscina, com o mar como pano de fundo, e confortáveis espreguiçadeiras em seu torno. Quem quiser massagens, poderá encontrar aquilo que pretende no mini spa, composto apenas por um gabinete.

Um sono ótimo, um despertar ainda melhor

A MAGG ficou num quarto Superior Vista Mar. Ao contrário do resto do interior do espaço — repleto de elementos náuticos, como bússolas, cartas de navegação ou mapas, com um ambiente mais escuro, semelhante ao interior de uma caravela — os quartos são leves, claros e muito confortáveis. À exceção dos candeeiros erguidos por um cilindro de vidro com maçãs verdes no interior, a decoração é bonita, descontraída e simples o suficiente para não ofuscar a paisagem à qual a varanda — com mesa e cadeiras — dá acesso. A cama era grande, com um colchão confortável, assim como os conjuntos de almofadas que tanto apreciamos quando dormimos numa cama de hotel. Sono bom, despertar ainda melhor. Tudo ótimo.

Num tempo em que não param de aparecer hotéis cada vez mais modernos, sofisticados e com ambientes que querem ser originais, mas que acabam por se copiar uns aos outros, é uma verdadeira lufada de ar fresco chegar a um local que, com toda a comodidade e cuidado, é despretensioso, autêntico e realmente português. O verde, cor de laranja, branco e alguns tons de castanho davam cor à composição de azulejos históricos, que estão ali desde que o edifício foi erguido. Pintados à mão, foram feitos propositadamente para aquela pousada e incluem elementos marítimos.

Apontamentos históricos sim, mas está na altura de trocar os secadores

Mas há, claro, o reverso da medalha. Há aspetos que podem ser melhorados, nomeadamente ao ser necessário encontrar o equilíbrio entre o leve o pesado. Mantendo os elementos náuticos e pormenores de valor histórico, em nome da memória e da autenticidade que a distingue de tantas outras unidades, a pousada ganhava muito em tornar mais clara a decoração interior. Se por um lado há apontamentos que são de grande valor, há outros desnecessariamente datados, como é caso dos secadores — que, atrever-me-ia a dizer, são do tempo do próprio Infante D. Henrique, se não soubesse que por essa altura ninguém sonhava que iria existir um aparelho com esta finalidade.

Estranho foi também ter de ligar os candeeiros do quarto um a um porque os interruptores da entrada só funcionavam para a casa de banho. A sala de estar com lareira (uma das três da pousada), com um ar mais leve e atual, mas igualmente genuína, foi redecorada mais recentemente e poderá ser um excelente ponto de partida. Continuem a renovar — está na altura de o fazer.

A oferta do pequeno-almoço (que ao fim de semana é até às 11 horas, o que consideramos uma excelente ideia) não era muito extensa, mas de qualidade. Fez-se de diferentes pães, manteiga, queijo, compotas, bolos caseiros, iogurte, frutas e cereais. Podia ser tomado no interior, mas sugerimos que, caso o tempo o permita, o faça na esplanada, porque a paisagem é linda e o ambiente é ultra relaxante.

O Porto da Baleeira, de onde partiu o barco semi-rígido que nos levou a ver os golfinhos

A carta do restaurante da Pousada, criada pelo chef Valter Correia, dedica, todos os meses, parte da sua oferta a um peixe diferente, que se garante fresco. Em junho foi o mês a sardinha. Julho e agosto serão os meses do atum. Com produtos mais locais e sazonais possíveis, provámos, nas entradas, rolo de sardinha em panko ou sardinha braseada em salada montanheira — estes já não pode experimentar, mas terá outras propostas disponíveis. Seguiu-se uma ótima cataplana Algarvia (23,5€ para uma pessoa ou 43€ para duas) e, para terminar, uma torta de laranja (6€) e a desconstrução de cheesecake de batata-doce (7€), absolutamente divinal.

Estive dois dias em Sagres e nunca tive tanta vontade de ficar num sitio. Apeteceu-me ter três anos para ser legitimo fazer uma birra. Além de ter aproveitado a Pousada do Infante, fui à praia do Beliche, passei no Zavial e terminei na praia do Catelejo. E tive tanta sorte com o tempo, que só pode ser obra do destino. Sei que há muito mais por explorar e é isso que quero fazer. Meti na cabeça que este vai ser um dos meus destinos de férias. E, se puder acordar naquele mesmo quarto, naquela mesma cama e com aquela vista, sou a pessoa mais feliz do mundo.

Os preços por noite num quarto duplo variam entre os 90€ e os 270€. Todas as tarifas incluem pequeno-almoço e as crianças até aos 12 anos não pagam, sendo que podem estar até duas acompanhadas dos pais num quarto.