Não há sítio novo em Lisboa que não tenha húmus de inspiração israelita, ceviche peruano, bowls do Hawai ou pauzinhos que nos obrigam a comer à oriental. Há muito que o mundo deixou de ter barreiras e as gastronómicas deram lugar a uma cozinha tão global que já ninguém tem de apanhar um avião para matar saudades da comida de casa.

Há quem defenda a comida minhota e quem considere que é no Alentejo que se come melhor no País inteiro. Há ainda os amantes do queijo da serra, do atum dos Açores ou das amêijoas do Algarve. Defendêssemos nós a baliza do país como defendemos os nossos pratos e nem precisávamos de ir à qualificação para o Mundial. Estava ganho.

O amor tão português pela gastronomia faz com que Lisboa, muito antes dos tais ceviches e poke bowls de outros continentes, se tenha enchido de restaurantes com a melhor comida de cada região do País. De Trás-os Montes ao Algarve, passando pelas ilhas e não esquecendo as Beiras, há espaços a servir petiscos com todos os sotaques.

Passámos os olhos na nossa lista de contactos de maneira a conseguir chegar a pessoas que, apesar de viverem em Lisboa, sabem melhor que ninguém quais são os restaurantes a que podem chamar de casa.

MINHO

Não é por acaso que esta é a primeira região desta lista. É óbvio que a questão geográfica ajuda, se quisermos começar de cima para baixo, como manda a norma. Mas quem vos escreve vem de terras lá de cima e não tem porque o esconder ao escrever este artigo. Aliás, facilitou até o trabalho de procura pelo melhor restaurante para matar saudades de casa. Esse é um sentimento comum e não foram poucas as vezes em que um abraço de mãe foi substituído por uma broa de milho acabada de sair do forno. Posto isto, são estas as escolhas.

Não é por acaso que esta é a primeira região desta lista. É óbvio que a questão geográfica ajuda, se quisermos começar de cima para baixo, como manda a norma. Mas quem vos escreve vem de terras lá de cima e não tem porque o esconder ao escrever este artigo. Aliás, facilitou até o trabalho de procura pelo melhor restaurante para matar saudades de casa. Esse é um sentimento comum e não foram poucas as vezes em que um abraço de mãe foi substituído por uma broa de milho acabada de sair do forno. Posto isto, são estas as escolhas:

Zé dos Cornos

Coisa pouca, não é?

Este é um restaurante aberto por quem desceu de Ponte de Lima para mostrar a Lisboa como comer entrecosto. [Sim, lisboetas, chama-se entrecosto, essa coisa do piano existe só no vosso metro quadrado]. Quando cá viemos já tínhamos banido a carne das opções do dia-a-dia, mas nem por isso nos sentimos menos integrados neste pequeno espaço junto à praça do Martim Moniz. "Oh filha, eu faço-te aqui um peixinho grelhado com uma saladinha. Queres batatas também?". O Sr. João diz-nos isto e parece que acabei de entrar em casa dos meus avós. O "peixinho" é na verdade uma dourada que só partida em três consegue caber no prato. A "saladinha" é todo um pé de alface com tomate e cebola, temperada com bastante azeite e sal grosso, um clássico da comida feita por quem acha sempre que o prato precisa de mais sabor.

Mesmo assim, não podíamos deixar de provar o arroz de feijão, uma das especialidades do Zé dos Cornos, e que só é servida à terça e ao sábado. E ainda bem. Só a minha mãe é que ficou triste quando à saída lhe liguei a dizer que tinha encontrado um arroz [melhor que] como o dela.

Morada: Beco dos Surradores, 3, Lisboa
Horário: segunda a quarta 11h45-16h; quinta 10h45-16h e 19-22h; sexta e sábado 11h45-16h e 19h-22h

Solar dos Presuntos

Comida minhota é comida minhota, seja ela servida numa tasca refundida ou num dos restaurantes mais famosos de Lisboa. No Solar dos Presuntos, a grande maioria dos funcionários estão na casa há tanto tempo quanto Evaristo, o criador desta meca do bem comer. E mais, muitos deles vêm do Minho e, como tal, não têm dificuldade em saber dar aquele tempero bem caseiro aos pratos e ao atendimento.

Chegámos a provar o Cabrito no forno à Monção (23,50€), mas falem-me em pataniscas com arroz malandrinho (16€) e o meu coração ruma a norte. Isso e quando nos vêm repor o stock de pão quente para entrada ou quando nos dizem que para sobremesa há marmelo assado. Mar-me-lo as-sa-do. Não morram sem provar isto.

Morada: Rua das Portas de Santo Antão, 150, Avenida da Liberdade, Lisboa
Horário: segunda a sábado: 12h-15h30 e 19h-23h

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Porto

Deve haver mais sítios a servir comida do Bangladesh em Lisboa do que aqueles que arriscam a preparar pratos típicos do Porto. Há um ou outro sítio a servir tripas, alguns arriscam na francesinha, mas sem nunca se dizerem os melhores. Não foi fácil chegar a duas opções e para isso falamos com quem não aceita que uma sandes com queijo gratinado seja chamado de francesinha. As escolhas não são óbvias, mas aí vão elas:

Imperial de Ourique

É neste espaço perto do Jardim da Estrela que está uma das melhores francesinhas da cidade (não confundir com a Imperial de Campo de Ourique, que também merece uma visita, principalmente na época da lampreia). Ouvimos muitos comentários a elogiar a qualidade do molho e o facto de as batatas fritas serem caseiras — algo que deveria ser regra, e não exceção. Custa 8€, com batata frita à parte (1,50€ meia dose, 2,50€ uma dose).

Morada: Rua Santo António à Estrela 106A, Lisboa
Horário: segunda a sexta 8h-20h

Nova Pombalina

Na Nova Pombalina tudo fica bem no meio de duas fatias de pão

Não é a imediata a relação com o Porto. Mas atenção, há poucas coisas mais típicas dos lanches no Norte do País do que abrir um pão e pôr seja o que for lá dentro. Bolinhos de bacalhau e rissóis são opções comuns. Na Nova Pombalina, a ementa não é fixa e varia conforme as vontades do cliente e o que existe na cozinha. Mas aqui vai uma sugestão de quem por lá passou várias vezes: sandes de presunto e ovo (4,20€).

Morada: Rua do Comércio 2, Lisboa
Horário: segunda a sábado 7h30-19h30

TRÁS-OS-MONTES

Longe, não é? Mas nem por isso pouco representado por Lisboa. Existem pequenos apontamentos em vários restaurantes pela cidade, onde é possível comer enchidos e azeite transmontanos. Mas já são vários também os restaurantes e mercearias a oferecer pratos e produtos típicos da região.

Banca de Pau

Estes são alguns dos petiscos que podem também servir de entrada a uma refeição no Banca de Pau

Quando à entrada da Banca de Pau nos é apresentada toda uma panóplia de vinhos e queijos, a coisa só pode correr bem. O produtos estão para venda, como se estivéssemos numa mercearia, mas também podem ser consumidos à mesa, e, aí sim, a escolha é ainda maior e com algumas opções que só os transmontanos tratam por tu. É o caso dos Milhos de Tomate (5,50€), uma espécie de arroz de tomate mas feito com milho em vez de arroz, ou o Azedo Grelhado (12,50€), um enchido fumado obtido a partir de carne e gordura de porcos de raça Bísara.

Morada: Rua Nova de São Mamede 38A, Lisboa
Horário: segunda a sábado 12h-24h

Despensa Transmontana

Fica ali perto do Chiado, para mostrar a lisboetas e turistas que há vida para além dos pastéis de nata ou dos gelados da Santini. Neste restaurante servem-se tábuas de queijo e enchidos (dos 6 aos 12,50€), como não poderia deixar de ser, mas também sandes de presunto grelhado (4€), pastéis de Chaves (1,50€), omelete de linguiça (6€) e cristas de galo (1,50€) para sobremesa.

Morada: Calçada Do Combro 145/147,  Lisboa
Horário: segunda a sábado 12h-15h e 19h-23h, domingo 19h-23h

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BEIRAS

"Não conheço nenhum em Lisboa que faça jus às Beiras". Acordámos com esta mensagem no telemóvel, vinda de uma pessoa que pode não ser especialista em restaurantes, mas que, sendo natural da Serra da Estrela, sabe o que é comer comida daquela que também já tem direito a termo inglês: confort food.

Mas há um espaço que, não sendo propriamente um restaurante, serve de casa a quem sente saudade da serra. Conheça-o:

Casa da Covilhã

Fica na Rua do Benformoso e escapa aos olhares de quem procura grandes panfletos, toldos ou esplanadas. Na Casa da Covilhã entra quem sabe que pode encontrar os pratos mais típicos das Beiras, servidos ao almoço ou para jantares de grupo marcados com antecedência.

Escolhemos uma terça ao acaso (está aberto apenas às terças ao almoço para sócios, amigos e convidados), só para testar se a ementa do almoço batia com aquilo que ouvimos elogiar quem conhece bem a comida das Beiras. Bingo: Panela no forno, um prato que junta ao arroz, enchidos e partes consideradas menos nobres do porco, mas nem por isso menos saborosas, como o pé de porco, orelheira e toucinho. Com entradas, sopa, prato, sobremesas, bebidas, café e digestivo, o menu fica por 11€. No caso dos jantares, o preço ronda os 15€, consoante o menu e as bebidas escolhidas.

Morada: Rua do Benformoso nº. 150, 1º B, Lisboa
Horário: Terças ao almoço, jantares por marcação

RIBATEJO

O Ribatejo conquistou-nos pelos pampilhos. Assim que provámos aquela massa recheada de doce de ovos e canela, percebemos que tínhamos encontrado ali o nosso doce. E isto sem passar pelos pratos principais. Diz quem sabe que existem dois sítios em Lisboa onde esta terra do bem comer está bem representada:

Mãe — Cozinha com Amor

Sopa da pedra é típica do Ribatejo. Esta versão é feita com bacalhau

É talvez o restaurante mais recente desta lista. Abriu ali perto do Arco do Cego para lembrar que não há sítio no mundo onde se coma tão bem como a casa da mãe. Os três sócios do Mãe são de Santarém e roubaram de casa as receitas que queriam ver Lisboa a provar. Há tomatada (5€), rabo de boi servido num wrap (8€) e sopa da pedra (8€), ainda que de bacalhau, a representar o que de mais típico Santarém tem para servir. Para sobremesa, as opções são muitas, mas houve uma que nos conquistou só pelo nome: "Pijaminha de doces conventuais" (4€).

Morada: Rua Dona Estefânia 92B, Lisboa
Horário: terça a sábado 12h-15 e 18h30-23h, domingo 12h-15h

Tapa Bucho

Já escrevemos sobre este restaurante. E bem. O Tapa Bucho ganhou recentemente um novo espaço — o Tapa Bucho Gastrobar— porque já não havia como responder a tanta clientela. Por aqui a comida é tradicional, ainda que haja também disponíveis algumas tapas espanholas. Vindas do Ribatejo temos o rabo de boi (7,50€) e a bochecha de porco (7€), que também não ficam mal com uma tortilha (7€) ou uns ovos rotos (6,50€).

Morada: Rua Diário de Notícias 122, Lisboa
Horário: segunda a domingo 12h-24h

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ALENTEJO

Chegamos ao Alentejo e já nos imaginamos a mergulhar numa sopa de cação. Ou numa cesta de pão quente com manteiga e, aproveitando o trocadilho fácil com o mergulho, até mesmo numa encharcada.

A par do Minho, talvez seja uma das regiões cuja comida está mais bem representada em Lisboa. Saiba onde.

Zé Varunca

Cá estão os tais guardanapos de pano bordados

Nas mesas deste restaurante há sacos de pão nas mesas (com o nome do proprietário bordado) e louça típica de São Pedro do Corval. A sensação de entrar numa casa mantém-se, mesmo que tenham mudado de instalações para o Bairro Alto, depois de anos aberto na Rua de S. José.

A ementa do Zé Varunca não falha e respeita tudo o que de mais alentejano existe. Há açorda (10€), migas (9,50€), ensopado de borrego (13,50€) ou feijão branco com tromba de porco (€9,50). Para sobremesas há duas que só quem ruma a sul com frequência conhece: pudim de água de Estremoz (4€) e tecomaleco (4€).

Morada: Travessa das Mercês 16, Lisboa
Horário: segunda a sábado 12h-15h e 19h30-22h30

Magano

Abriu como restaurante do mais típico que se podia pensar. Ao longo dos anos, e já lá vão alguns, foi aprimorando receitas e abrindo os horizontes a novas experiências, sem nunca, contudo, esquecer que é comida alentejana que quem ruma a Campo de Ourique quer encontrar. E, tendo em conta a ementa, não se vai desiludir. No Magano há sopa de tomate com garoupa e ovo escalfado (17€), carne de alguidar (30€) e perdiz de escabeche com batata (19€). A lista de vinhos é longa e abrangente, não se ficando apenas pelo que há na região. Mas se quiser ficar pelo Alentejo, não fica mal, principalmente se escolher um Herdade do Perdigão tinto (38€).

Morada: Rua Tomás da Anunciação 52, Lisboa
Horário: segunda a sábado 12h-15 e 19h39-22h30

ALGARVE

Sempre que podem, os lisboetas fazem-se à estrada em direção ao Algarve. Mas como nem sempre isso é possível e, fazendo bem as contas, ainda são quase três horas de A2, talvez um pequeno desvio pelas ruas de Lisboa seja suficiente para matar as saudades do sul.

Luzboa

A ementa do Luzboa está escrita à mão, o que nos deixa com esperança de que também os pratos sigam esta linha descomplicada. Há gaspacho (2€) para começar, muxama de atum (4,50€) e rissóis de conquilha (6,50€) para os entretantos e um arroz de lingueirão (8,75€) para arrematar este banquete que, por momentos, nos faz viajar da Praa de Espanha, para o paredão de Tavira.

Morada: Rua Marquês Sá da Bandeira 124, Lisboa
Horário: segunda 12h-15h, terça a sexta 12h-15h e 19h30-23h

Eduardo das Conquilhas

No Eduardo das Conquilhas o mar entra-nos prato adentro

Pronto, é na Parede, mas pelo menos é mais perto de Lisboa que o verdadeiro Algarve ainda que, se fecharmos os olhos e deixarmos o paladar tomar conta do momento, pareça que de repente estamos em plena esplanada a sul.

Este não é um restaurante algarvio, mas há poucos petiscos mais típicos desta zona do que as conquilhas, coisa que aqui é servida com mestria. A dose custa 12,90€, mas se não estiver numa de conquilhas, saiba que existem mais itens na lista das especialidades. É o caso do creme de camarão (3,20€) ou do Bacalhau Estalado (13€).

Morada: Rua Capitão Leitão 118, Parede
Horário: terça a domingo 12h-01h

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AÇORES

E de repente Portugal percebeu que existem nove ilhas incríveis para descobrir e que não é preciso ir à Islândia para ver paisagens que não parecem reais. Vimos de lá encantados com as vistas e também com os pratos, normalmente feitos com peixes dos quais nós, pobres continentais, nunca ouvimos falar. Em Lisboa, já existem mercearias a vender produtos que só se encontram nos Açores, mas decidimos destacar aquele que é o restaurante mais recente a mostrar a Lisboa o que de melhor se come naqueles pontinhos no meio do Atlântico.

Açores na Feira

Serve comida açoriana e fica no Largo da Feira da Ladra. Está explicado o nome, certo?

O açoriano Bruno Silveira é o responsável por este espaço e trouxe os pais para o ajudarem a dar um ar caseiro ao restaurante que abriu no início deste ano. Em conjunto, preparam pratos como Alcatra de carne regional (36€ para duas pessoas), Feijoada Terceirense (11,50€) e bife de atum dos Açores (16,50€). "Ainda aguenta?", escrevem no topo da lista de sobremesas. Aguentamos pois, venha daí essa D. Amélia (4€), que melhor só saberia se fosse servida na esplanada da pastelaria "O forno", no centro de angra do Heroísmo.

Morada: Campo de Santa Clara 140 A/B, Lisboa
Horário: segunda, quarta, quinta, sexta e domingo 10h-24h, terça e sábado 9h-24h

MADEIRA

Aqui a escolha já é mais difícil, até porque já existem vários restaurantes a servir iguarias madeirenses em Lisboa. Mas questionamos alguns dos madeirenses do nosso círculo de amigos e chegamos a um restaurante que agrada a todos.

Ilha da Madeira

Filetes de peixe espada com banana é uma das especialidades da casa

"Deixe-se encantar pelas mãos sábias da D. Maria, madeirense de gema e proprietária do espaço, capaz de o levar numa viagem até à Ilha, sem sair da mesa do seu restaurante". É assim que este restaurante de Campo de Ourique se apresenta à cidade, através do site onde partilha o menu e algumas receitas. Mas vamos então deixar-nos guiar pela D. Maria e pelas suas especialidades, destacadas na ementa: bolo do caco (3,25€), como é óbvio, filetes de peixe espada com banana (11,50€) e espetada à Madeira (13€).

Morada: Rua Campo de Ourique 33, Lisboa
Horário: terça a domingo 12h-16h e 19h30-00h