Esta sexta-feira, 8 de junho, é considerado o Dia dos Melhores Amigos. De certo já teve um (ou muitos) na adolescência e, se calhar, é o mesmo (ou são os mesmos) dos dias de hoje. A verdade é que os amigos fazem parte da vida e são tão importantes como a família. Quando está feliz é com eles que celebra e quando está triste também são eles que o ajudam a superar os desgostos.

São pessoas que não se pensa que se pode perder. Infelizmente, por vezes, a vida leva-os por caminhos diferentes. O que acontece quando se perde uma grande amizade, daquelas que era suposto ser para a vida? A psicóloga Rosa Amaral, da Clínica Europa, explicou à MAGG quais são as consequências emocionais desta separação e como a superar.

Essa amizade é importante porque eles são as pessoas que nos acarinham, que nos acompanham ao longo da vida e que nos permitem, através da sua presença na nossa vida, termos uma rede de apoio, quem nos oiça e quem nos ajude e dê afeto. É uma relação de uma troca muito intensa"

A psicóloga começa por explicar que, com os amigos é possível ter um tipo de amor e de afeto que acaba por ser especial e diferente do familiar, pois é "um amor ‘escolhido’": "É um amor quase que incondicional, o que é uma coisa interessante nas amizades. Nós acabamos por ir escolhendo os amigos por nos sentirmos bem com eles mas, com o tempo, se a amizade for realmente verdadeira, estabelece-se uma relação em que quase tudo é aceite e estamos lá sempre prontos a ajudar, tal como eles também estão para nós".

Rosa Amaral explica que as relações de amizade são diferentes das relações amorosas, pois é um tipo de amor "brutal" por ser característico dos amigos "dizer umas verdades e continuar lá ao lado", independentemente da asneira que a pessoa fez ou do defeito que tem.

"Essa amizade é importante porque eles são as pessoas que nos acarinham, que nos acompanham ao longo da vida e que nos permitem, através da sua presença na nossa vida, termos uma rede de apoio, quem nos oiça e quem nos ajude e dê afeto. É uma relação de uma troca muito intensa", explica, acrescentando que este é um amor muito único.

A perda de uma grande amizade pode provocar uma depressão

Por todas estas razões, quando uma relação de grande amizade acaba, a perda de uma pessoa tão próxima é muito dolorosa "exatamente porque aquela pessoa é, muitas vezes, aquela para quem não se tem segredos". Ao contrário do que acontece em algumas relações amorosas, em que as pessoas continuam a ter "um bocadinho de um cantinho seu, mais secreto, que não partilham na totalidade", com as amizades isso não existe: "Daquela pessoa nós esperamos tudo, mas não esperamos a separação".

A quebra deste tipo de relações pode provocar uma sensação de traição, de desilusão, de  revolta e toda uma série de sentimentos muito profundos, pois é "como se não houvesse a expetativa que aquela pessoa pudesse ser perdida da sua vida".

Foi o que aconteceu a Adriana Peitaço, 21 anos, quando perdeu a relação que tinha com a melhor amiga por causa de um rapaz: “Nós éramos amigas há 18 anos, desde que nascemos praticamente. Vivíamos perto uma da outra e, por isso, nem consigo contabilizar bem o tempo que passávamos juntas e todas as horas de conversa. Não tínhamos segredos entre nós". Mesmo não gostando do namorado da amiga, por situações passadas, aceitava a sua presença para que pudesse estar com ela.

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Mas, com o passar do tempo, as coisas foram mudando: "Ela deixou de querer estar comigo e só me falava quando eles estavam mal. O tempo foi passando e eles já namoravam há mais de um ano quando foi o meu aniversário (evento ao qual ela faltou avisando à última hora). Mais tarde, nessa mesma noite, encontrei-a numa festa, mas ela não me falou".

Depois de uns meses sem falarem, Adriana não conseguiu mais ignorar o que se estava a passar. "Fui falar com ela para lhe perguntar o que ela sentia em relação ao nosso afastamento brusco, e ela só disse que não tinha feito nada assim tão grave para que eu não falasse com ela. Discutimos e afastamo-nos de vez". No entanto, a reaproximação aconteceu quando o namorado acabou com a amiga e as coisas pareciam estar a melhorar. Até que, pela segunda vez, ela desmarcou coisas que tinham combinado juntas, em cima da hora, sem motivo aparente. A partir daí nada voltou a ser igual.

É um processo difícil, que magoa, e acarreta um grande sofrimento. É um vazio emocional que põe tudo em causa".

Algumas das consequências a nível emocional, com este tipo de perda podem ser o ceticismo em relação às relações, a vontade de criar um afastamento emocional das outras pessoas, a falta de confiança nos outros amigos, o medo de perder as pessoas que mais gosta e a sensação que, afinal, as relações não são aquilo em que acreditava.

Rosa Amaral explica que, quando acontecem situações em que há uma perda profunda de uma coisa em que a pessoa confiava na totalidade, cria-se um ceticismo perante a vida, no sentido de olhar a vida com um olhar cru. "É como se pensasse: 'Se eu não posso confiar nesta relação então em que é que eu vou poder confiar?'. A pessoa pode ficar um pouco mais amarga, pode deprimir, pode, durante algum tempo, afastar os seus hábitos sociais e afastar-se dos outros amigos."

O luto é uma fase complicada e que se pode prolongar durante anos. A psicóloga afirma que é necessário fazer um "luto vivo": "Eu sei que aquela pessoa está viva, eu sei que perdi aquela pessoa e vou fazer coisas normais onde aquela pessoa normalmente estava presente. É um processo difícil, que magoa, e acarreta um grande sofrimento. É um vazio emocional que põe tudo em causa. Há pessoas que com 50 ou 60 anos são capazes de falar daquele amigo que perderam (por uma zanga) há 20 anos e que às vezes se perguntam como estarão na vida. É um processo que não fica encerrado de uma forma fácil".

O tempo e o suporte dos amigos ajudam a superar a perda

Para Adriana "foi muito complicado lidar com tudo", uma vez que vivia perto da amiga e frequentavam os mesmos sítios. Hoje em dia, quando passam uma pela outra na rua, não dizem mais do que um "olá". Para superar esta perda, a mãe e o namorado foram o grande apoio: "A minha mãe chegou a falar com familiares da minha amiga para saber se ela estava bem e se não queria falar comigo. E o meu namorado foi sem dúvida uma pessoa que me distraiu e quase que me proibiu de tentar falar com ela, para ela assumir o erro e não ser eu a ir atrás de algo já estragado".

Já Rita, nome fictício porque prefere ficar no anonimato, 23 anos, preferiu cortar definitivamente o relacionamento com a ex-melhor amiga: quando esta acabou a relação amorosa que mantinha com o irmão de Rita, continuaram amigas, mas as coisas não correram bem. Ela "só metia veneno", dizendo-lhe que o irmão era má pessoa: "Eu comecei a suspeitar e a achar estranho, porque sabia que o meu irmão não era aquele tipo que ela estava a descrever. Depois vim a descobrir que, na verdade, ela é que o tinha traído com um colega de trabalho. Quando a fui confrontar, ela em vez de se defender, começou a ofender-me e à minha família".

Desde aí que nunca mais a quis voltar a ver: "Já se passaram três anos e não tenho uma amizade tão forte como era aquela (ou pensava que era). Só quero que ela seja feliz bem longe de mim. Ela ainda me segue e eu deixei de a seguir em redes sociais, não quero mesmo mais nada com alguém tão falso". Mesmo sabendo que a amizade não era verdadeira o suficiente, foi difícil para Rita seguir em frente: "A verdade é que, de início, foi muito difícil e custou-me imenso. Ela era a minha melhor amiga, tudo de bom e de mau que me acontecia só queria mesmo ter ali alguém a quem poder ligar, fosse para falar de coisas importantes ou só mesmo de coisas sem interesse. Fez-me imensa falta ter uma amiga para tudo".

Segundo a psicóloga, o tempo ajuda, mesmo que as pessoas não gostem de ouvir este conselho. É com ele que vai percebendo que, se calhar, tudo aconteceu por determinadas razões e vai tentando encontrar, a nível da razão, perceber melhor a perda, tornando-se mais fácil a sua superação. Alguns dos truques que o pode ajudar são, " em primeiro lugar tentar perceber por que é que a rutura aconteceu, e pensar numa razão racional na qual a pessoa consiga agarrar-se para apoiar o desapego do lado emocional, como por exemplo, que a razão pela qual se zangaram ser muito válida".

O conselho de Rosa Amaral é usar a razão para tentar perceber um pouco a situação e, com isso, conseguir uma certa distância emocional. Também tentar não alterar, de uma forma radical, a vida e não permitir a si próprio refugiar-se em ideias demasiado más. Deve acreditar que, "embora aquilo tenha acontecido com aquela amizade não quer dizer que aconteça com todas as outras". Manter a  confiança nas outras relações e apoiar-se nos amigos tentando, acima de tudo, manter rotinas e "entregue à vida".