Esqueça a toalha estendida, o bronzeador, as raquetes ou o livro do qual vai ler duas páginas antes de adormecer na torreira do sol. “Esse cenário é tão aborrecido”, exclama Robert, uma dos membros de uma dupla para quem uma ida à praia se faz a subir montanhas e descer trilhos que levam ao mar.

Robert Butler e Andy Mumford esperam por nós à entrada de uma praia totalmente vazia. Podíamos culpar este inverno tardio ou até mesmo o micro clima típico dos lados de Sintra, mas a verdade é que até no pico do verão é fácil encontrar aqui uma espécie de oásis para quem quer desfrutar do calor sem ter que lutar por um metro quadrado de areia.

Vamos lá desvendar o mistério, mas só se prometer que não vai contribuir para que este espaço deixe de ser apenas dos mais curiosos. Estamos na praia da Samarra, uma das 32 “Praias escondidas de Lisboa” que esta dupla de exploradores compilou num livro que vai ser lançado dia 8 de junho.

Esta é a praia da Samarra, em Sintra, o cenário para a nossa caminhada

“Estão a ver aquela zona com árvores ali ao fundo?”, aponta Robert, na direção de arriba que envolve a praia, “era um antigo povoado com mais de 4 mil anos”. A nossa cara de “uau” faz com que Robert reaja imediatamente. “Está tudo explicado na placa ali na estrada de acesso, não pensem que sou uma wikipedia andante”.

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Não é uma “Walking Wikipedia”, se quisermos manter-nos fiéis à língua em que comunicamos durante esta manhã, mas sabe mais sobre tudo o que existe junto no litoral de Lisboa do que aqueles que todos os anos se habituaram a férias e fins de semana entre a Linha, a Costa ou as praias de Sintra.

“Sempre achei estranhíssimo comentar com amigos portugueses sobre praias que ia descobrindo e quase ninguém conhecer”, explica. Um desses amigos foi Andy, fotógrafo, que conheceu quando os dois davam aulas de inglês no British Council, profissão que atualmente apenas Robert mantém. Andy, que já vive em Portugal há mais de vinte anos, dedicou-se à fotografia e é ele que dá forma visual aos textos de Robert.

“Curiosamente, a caminhada que vamos fazer hoje foi também a primeira que fizemos juntos”, confidencia Andy, admitindo que muitas vezes deixa que seja a curiosidade de Robert pela geologia a guiar o caminho. “Olha para estas pedras. São vulcânicas, raríssimas”, interrompe Robert. “Vê? É disto que estou a falar”, brinca Andy.

Sem fazermos contas ao caminho e sem espreitar o que o iPhone diz que já andámos hoje, apontamos para uns 2,5 km de trekking. Coisa pouca para quem está habituado a calcorrear todo um litoral, mas o suficiente para provar que fazia falta um compêndio deste género.

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“Lisboa é uma cidade especial porque é a capital e, ainda assim, tem todas estas praias a menos de uma hora de distância”, garante Robert.

Apresentando-se como um guia prático, o livro começa por dividir as praias por zonas: Sintra Norte, Sintra Oeste, Costa, Cabo Espichel e Arrábida. E se isto não for suficiente, a organização seguinte é feita por temas. Sim, porque aqui há praias para todos os gostos. Mesmo.

Praias para aventura, fotografia e pôr do sol, caminhadas, praias para levar crianças, mais isoladas, com acesso mais fácil, as ideais para campismo, para snorkeling, canoagem e até para levar os cães e também aquelas servidas de transportes públicos.

Em cada um destes subtemas a dupla escolheu um top 5 das praias que melhor encaixam em cada categoria. Folheando rapidamente o livro, percebemos que a de hoje encaixa perfeitamente na categoria das perfeitas para trazer os cães, daí Robert ter trazido o Ziggy e a Cloe consigo como, aliás, é hábito sempre que sai para caminhar. Numa leitura mais atenta ficamos a saber ainda que na praia da Samarra foram descobertas ossadas de mais de cem indivíduos e que, devido às fortes correntes, nadar não é recomendável.

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À parte destas curiosidades, Robert e Andy querem que com este livro — e com as caminhadas que esperam que se faça com ele na mão — alertar para a urgência do cuidado com o meio ambiente. “Aqui não vai acontecer, mas em Carcavelos, onde vivo, não há dia em que não recolha pelo menos um saco cheio de lixo”, refere Robert.

Aqui não ia acontecer, não era? Quase que a dura realidade não deixava Robert acabar a frase. De repente temos aos nossos pés um saco de plástico branco, com mais sacos de plástico lá dentro. Isto junto a uma corda velha usada para a pesca. “Enquanto os portugueses não derem valor ao que têm” — e olha em volta em contemplação — “isto vai sempre acontecer”, lamenta.

Não queremos orientar as escolhas de ninguém, até porque nas 190 páginas deste livro há praias que respondem a todo o tipo de público. Até mesmo para aqueles cujo cenário ideal é aquele que usamos com tom depreciativo para começar este texto.

E como também Andy e Robert podem olhar para as praias de Lisboa na ótica do utilizador, decidimos pedir-lhes um top três das preferidas. Depois de algum debate, e apesar de terem conseguido compilar 32 em livro, não foram capazes dar uma lista comum. Variedade nunca nos pareceu um problema, por isso, aqui vai.

As preferidas de Robert Butler:

As preferidas de Andy Mumford: