Quando nas sugestões do Facebook nos surge algo como "boteco veggie" com localização a 600 metros do trabalho, pomos like, claro.

O mais estranho foi ver que, apesar de ser uma novidade e da palavra "veggie" estar bem explícita no nome, as fotos remetiam para fotografias de postas mirandesas, polvos à lagareiro, pizzas com presunto e cheesecakes. E aqui não há trocadilhos, postas que afinal são seitan ou polvo que afinal é tofu. A posta era mesmo posta e o polvo era mesmo polvo.

Não era spam das redes sociais, nem um engano de quem administra a página. A verdade é que Mafalda Almeida, a cabecilha desta ideia, ainda não apagou o histórico da página onde dá a conhecer um restaurante que, apesar de aberto desde abril, começa a sua história em 2013.

Morada: Rua do Grémio Lusitano, 14, Lisboa

Horário: Todos os dias das 12h às 00h (encerra às quartas)

Foi nesse ano que Mafalda e a irmã, habituadas a viver entre tachos e panelas nos restaurantes que o pai teve ao longo da vida, decidiram pegar num espaço no Bairro Alto que lhes foi apresentado como sendo o italiano mais antigo de Lisboa. "A dona pediu-nos para ficarmos com alguns pratos e até com alguns funcionários", conta à MAGG. E foi assim que nasceu "O Boteco", que passou a juntar no mesmo espaço petiscos portugueses com clássicos italianos, servidos com a experiência de quem já levava mais de trinta anos na restauração e também com a de quem via tudo acontecer pela primeira vez. Era o caso de Mafalda que, com formação em medicina dentária, estava longe de imaginar uma vida dedicada à comida. "Na verdade, passei muitos anos sem saber exatamente a que é que me ia dedicar", admite. Foi nessa fase que se afastou do negócio, deixando-o nas mãos da família, viajou muito e tirou cursos das mais diferentes áreas, à espera que algum lhe desse uma orientação.

Do ioga ao veganismo

Esse caminho acabou por ser traçado quando experimentou o ioga. "Mudou o meu corpo, mas também a forma como vejo o mundo", garante. Aos poucos começou a rejeitar a carne e o peixe ficava apenas para as idas a restaurantes onde as opções vegetarianas não são mais do que alface e tomate. "Se vou comer fora, quero ter uma experiência gastronómica como toda a gente da mesa. Não é por não comer carne que tenho que me contentar com saladas".

Mafalda pegou nesta indignação e na vontade de voltar ao ativo para tomar conta do negócio de família. "Decidi que se era eu que ia ficar à frente d' "O Boteco", então ele tinha que ser feito à minha imagem". Foi assim que o restaurante ganhou um sufixo e passou a "Boteco Veggie da Mafalda", onde, do meio-dia à meia-noite, são servidos snacks, pratos e sobremesas sem carne, peixe, ovos, laticínios e glúten. "Há só duas exceções", avisa Mafalda, antes que seja apredejada pelos mais atentos aos ingredientes (para não usar o termo picuinhas). O hambúrguer é feito em bolo do caco e, por isso, com glúten — "isto até conseguirmos acertar na receita para que também o pão seja feito por nós" — e há ovo de tomatada picante como entrada "que, na verdade, ninguém pede", como que a dar provas de que este espaço se quer 100% livre de produtos de origem animal.

O menu

Servem almoços, jantares e nos intervalos há sempre espaço para um snack, um sumo detox, um copo de vinho ou um jarro de sangria de beterraba. Sim, beterraba, que aliás, é personagem principal de mais itens do menu, como é o caso dos "Bolinhos da horta" (6,50€) de entrada ou da "Pink Bowl Raw" (10€), feita com esparguete de beterraba, molho de coco, ananás, papaia, parmesão e rebentos de ervilha.

'Bacalhau com natas', que na verdade é feito com alho francês, é uma das opções de almoço

"Raw" é palavra de ordem deste boteco que, apesar de uma cozinha preparada para pratos quentes, prefere servir os produtos na sua forma mais natural. No couvert (4€) é suposto usar palitos de cenoura e curgete para aproveitar a tacinha de húmus e de tapenade e de entrada há spring rolls (8€) com recheio de fruta e legumes. Há ainda "Raw Lasanha" (14€) para prato principal e cheesecake e brownie, feitos sem ir ao forno.

As ideias para criar um menu com base em alimentos crus veio de Duarte Gonçalves, chef crudívoro e fundador do projeto Alimento Desperto, que promove aquilo que chama de 'comida viva' (comida crua), a quem Mafalda foi buscar inspiração. Hoje em dia, admite, passa o dia a petiscar sem cozinhar. "É um tomate aqui, uma fruta ali, um smothie, uma bowl. Sinto-me muito melhor a comer assim e é isso que quero servir a quem me visita".

Sem formação na área, tudo o que sabe de cozinha vem do que lê em livros e da famosa técnica da tentativa-erro. "Ainda ontem fiquei aqui até à uma da manhã a testar uma receita de panquecas e não descanso até conseguir fazer uma manteiga de amendoim caseira que me saiba às que se compram no supermercado. E que como às colheres, confesso".

O brunch custa 15 euros e é servido ao fim de semana

Enquanto esperamos pela receita perfeita, podemos aproveitar outras das coisas que esta cozinha faz de raiz. Na picadora, Mafalda prepara uma nutella feita de cacau e avelã que vai servir de topping ao overnight oats que abre alas ao brunch que se prepara para servir aos fins de semana. Com pratos ainda em teste, Mafalda pede-nos para sermos uma espécie de cobaia ao 'crudibrunch' e à mesa chega-nos então a tal tacinha de chia, banana e nutella, um sumo de espinafre, maçã e gengibre, húmus e tapenade, e os três pratos principais, dos quais o cliente escolhe um: hambúrguer em pão de beterraba, lasanha raw ou burrito feito com tortilha de couve. Como cobaias, não há escolha: provámos dos três e foi "rawsome".

As coisas MAGGníficas da vida!

Siga a MAGG nas redes sociais.

Não é o MAGG, é a MAGG.

Siga a MAGG nas redes sociais.