Num mundo em que é cada vez mais difícil distanciar as crianças e jovens das tecnologias, os pais estão a entrar no modo "se não podes vencer junta-te a eles". Neste caso, na inevitabilidade de ter que oferecer um smartphone a um filho, há cada vez mais pais que usam essa ferramenta como arma para os ter debaixo de olho.

Desde aplicações que permitem aos pais verem tudo o que os filhos publicam nas redes sociais, como a Teen Safe, àquelas como a Net Nanny que bloqueiam determinados sites, até às que mostram a velocidade a que o jovem está a conduzir ou a velocidade do carro em que viaja como passageiro, como a MamaBear, há de tudo.

Mas se esta sensação de controlo deixa um pai mais descansado, não faz dele necessariamente um bom pai. Ora vejamos.

Um estudo preliminar realizado na Universidade da Florida Central, nos Estados Unidos, mostra que o uso destas aplicações pode efetivamente prejudicar a relação entre pais e filhos que, obviamente, não veem com bons olhos terem um Big Brother a vigiar-lhe os passos.

As apps não são a solução

Os investigadores usaram como amostra 200 pares de pais e adolescentes com idades entre os 13 e os 17 anos que utilizam a internet com frequência. Cerca de metade da amostra admitiu já ter usado, pelo menos uma vez, aplicações que determinam limites no uso da internet por parte dos filhos. Depois de uma análise caso a caso foi possível perceber que os pais que usavam essas aplicações eram mais rigorosos e autoritários com os filhos, o que os leva a serem também mais exigentes e pouco dispostos a ouvi-los ou a encontrar, em conjunto, um meio termo para este controlo.

Por outro lado, e quase como forma de reação a esta autoridade que consideram excessiva, os adolescentes cujos pais admitiram usar essas aplicações estão mais propensos à exposição a conteúdos impróprios para a sua idade, assédio online e problemas de relacionamento com outros jovens.

Depois deste primeiro resultado, os investigadores foram ainda analisar 736 críticas feitas por pais e filhos sobre aplicações de controlo parental disponíveis do Google Play. Enquanto os pais mostravam entusiasmo sobre as ferramentas, mais de dois terços dos jovens davam apenas uma estrela — numa pontuação de 0 a 5— e muitos deles admitiam que o uso destas aplicações afetava negativamente o relacionamento com os pais.

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“Desde que o meu pai instalou esta aplicação que me sinto mais afastado dele. Se ele não confia em mim para usar o meu telefone, porque é que eu hei-de confiar nele?”, questionava um jovem, na crítica que fez ao SecureTeen Parental Control.

Se as aplicações não funcionam, qual é a solução?

Com as duas pesquisas em mãos, e que vão ser apresentadas no final deste mês, na Conferência da Association for Computing Machinery sobre Fatores Humanos em Sistemas Computacionais, em Montreal, no Canadá, os investigadores sentem-se confiantes para aconselhar os pais a preferir o diálogo à tecnologia.

“Em vez de recorrerem a redes automatizadas de segurança, talvez fosse mais eficaz que os pais se envolvessem mais na vida dos filhos, que inclui supervisionar o que eles veem na internet e ter conversas abertas sobre o assunto”, explica Pamela Wisniewski, uma das investigadoras, ao Gizmodo. Se mesmo assim os pais se sentirem mais seguros ao usar este tipo de aplicações, a equipa sugere que sejam usadas como complemento a uma prática parental positiva e não como substituo da função de acompanhar os filhos de perto.