Deviam ser umas cinco da manhã quando ouvi o puto a chamar. Paaaaaaai! Oh, paaaaaaai! Já não me lembro com o que é que estava a sonhar — mas é quase sempre com coisas estúpidas, do estilo estar no local de trabalho em tronco nu porque me esqueci de levar camisa (verdade, acontece — o sonho, não o vir trabalhar sem camisa) — só sei é que me levantei, estremunhado, e lá fui ver o que é que ele queria. As opções também não costumam ser muitas, nem particularmente originais.

— Pai, perdi uma meia.
— Pai, deixei o meu urso na sala.
— Pai, tenho sede.
— Pai, como é que se chama aquele mau do Star Wars que tem uma espada verde?

Urgências, percebe-se. Mas embora haja aqui excelente material, a crónica não é sobre isto. Voltemos ao momento em que me levanto estremunhado a caminho do quarto do puto.

Um homem nunca ganha uma discussão em casa, mesmo quando acha que ganha
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Cinco da manhã, mais a dormir do que acordado, tudo às escuras, um frio do caraças, um camadão de sono em cima, saio do quarto, chego ao hall de entrada, catapum!, um chuto em cheio na mala de viagem que jaz naquele sítio vai para cinco meses, desde a viagem que fizemos em agosto sei lá aonde. Só para contextualizar, estamos em março, quase abril. A viagem sei lá aonde foi em agosto. Agosto, setembro, outubro... março, abril, nove meses. N-O-V-E M-E-S-E-S. É o tempo de se gerar uma criança. Mas é também o tempo que a minha mulher acha razoável para ter uma mala de viagem por arrumar no hall de entrada de casa. Agora pergunto, porque tenho efetivamente esta curiosidade: isto é uma coisa que só me acontece a mim? Ou é uma cena em geral das mulheres? Ou dos homens? Como é aí por casa?

O que me faz mais confusão no meio disto tudo é que dentro das malas de viagens estão coisas que efetivamente nos fazem falta, sei lá, cuecas, meias, escovas, cenas de higiene, sapatos, chinelos, pronto, aquelas coisas que achámos que iríamos usar quando estávamos fora de casa uns dias. Depois regressamos e aquilo fica ali tudo? Para aquela semana eram essenciais, depois já não são precisas? O que acho mais grave é que a atitude da minha mulher perante a mala é tratá-la como se fosse uma espécie de aparador móvel. De vez em quando, lá vai ela à mala, abre-a, tira qualquer coisa lá de dentro, fecha-a e vai à vida dela, como se a mala fosse uma extensão de um armário, mas amovível e localizado no hall de entrada.

Ora, isto mexe ainda mais com os nervos a uma pessoa que não consegue chegar a casa e pousar a mala, sequer. A primeira coisa que faço é abri-la, tirar tudo lá de dentro, e guardar a mala no sítio dela. É mais ou menos o mesmo que faço quando chego a um hotel: abro a mala, arrumo tudo nas gavetas do hotel e arrumo a mala, vazia. E é exatamente o oposto do que ela faz: coloca a mala num canto, abre-a e vai-se servindo ao longo do tempo. Agora que penso nisso com mais carinho vem-me à cabeça a ideia de que podemos estar perante casos patológicos. Mas e se o problema é meu?

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