Palavras como germes, fungos, bactérias ou vírus assustam alguns pais e mães. E talvez não haja razões para tanto. No livro “Let Them Eat Dirt: Saving our Children from an Oversanitized World”, os microbiologistas Marie-Claire Arrieta e Brett Finlay defendem que o ambiente onde as crianças atualmente crescem é mais higienizado do que nunca. E isso pode não ser tão bom quanto possa parecer. Os autores explicam que a exposição aos micróbios é essencial para o desenvolvimento saudável do sistema imunitário, o que deve começar na infância. Os autores alertam para possíveis condições crónicas como a asma ou diferentes tipos de alergias, que podem ser impulsionadas pela excessiva desinfeção do ambiente onde as crianças crescem.

A pergunta impõe-se: como é que os micróbios podem ser benéficos para as crianças? A pediatra Sofia Reis responde. “Há uma teoria que se chama ‘vacinas naturais’". Trata-se de um "contacto com algum microrganismo, que de uma maneira um bocadinho mais ou menos controlada e em pouca quantidade, poderá de alguma maneira criar imunidade na criança, para ela ser mais capaz de dar uma resposta futura mais rápida e eficaz em termos de imunidade.” No entanto, “esta teoria não substitui de todo o programa nacional de vacinação da direção geral de saúde.”

As idas ao parque e os momentos de brincadeira no recreio são muito importantes

É claro que este contacto deve ser feito com bom-senso — “um médico não pode dizer que a criança deve ir para um parque comer terra”, esclarece Sofia Reis. A ideia é que as crianças brinquem no parque e tenham diversos contactos naturais. “Os pais devem ficar minimamente tranquilos em relação à exposição ao nosso meio ambiente”. Não devem existir comportamentos extremos. Ou seja, nem um cuidado excessivo e uma higienização abusiva, nem forçar a exposição aos micróbios. O ideal é permitir que este contacto aconteça naturalmente.

Quando é que é benéfico para uma criança ser exposta a este contacto natural? Sofia Reis explica que “só a partir, mais ou menos, do sexto mês de vida é que eles começam a produzir os seus próprios anticorpos”. Acrescenta que “até um recém-nascido começar a ter a sua própria resposta imunitária é muito frágil em termos de suscetibilidade a doenças. São períodos da vida onde os meninos têm de estar muito mais protegidos.”

Desde os 6 meses, as crianças começam a criar os seus anticorpos de memória

O benefício da exposição natural aos micróbios também passa pela memória imunitária. Sofia Reis explica que “depois de as crianças contactarem alguma vez com um microrganismo, criam anticorpos de memória, que ficam lá com eles, e numa segunda exposição a resposta é muito mais célere.”

Um dos maiores receios dos pais é retirar os filhos pequenos do meio protegido da casa e passá-los para um jardim de infância ou creche onde estão expostos a mais micróbios. Mas a educadora de infância Maria João Ribeiro explica que os miúdos “brincam muito no chão, nas áreas da sala, e não ficam doentes. Ficam doentes só quando há surtos e gripes.” Ou seja, as doenças ditas "mais comuns" nas crianças, como varicela ou escarlatina, por exemplo. Que, segundo a educadora, “começam e vão-se propagando.”

Já em relação à transição de ambiente, de casa para o jardim de infância, a educadora Dora Marques acrescenta que “as crianças mais pequenas, quando entram pela primeira vez nestes meios são mais propensas a ficarem doentes do que aquelas que já estão cá. É só até criarem defesas.” Isto é, nestas crianças nota-se que numa primeira fase adoecem, mas uma vez que criam anticorpos tornam-se mais resistentes ao meio.

*texto originalmente publicado em 2018 e atualizado a 19 de março de 2023.

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