Em 1965, Simone de Oliveira cantava que “a primavera em flor, ao sol de inverno” se seguia. Porém, não são só as flores e os dias mais compridos que regressam com a nova estação — as alergias sazonais também chegam em força.

“Quando falamos de alergias de primavera estamos a referir-nos àqueles doentes que, estando bem o resto ano, têm sintomas particularmente importantes nesta estação — e podem manter ainda sintomas no verão e até no início do outono”, salienta à MAGG Josefina Cernadas, alergologista no Hospital Lusíadas Porto.

O que são alergias de primavera?

Uma alergia é uma situação em que o organismo apresenta uma sensibilidade aumentada para uma substância do meio ambiente que é habitualmente tolerada, em que as nossas defesas são dirigidas contra essa substância, e que é interpretada como estranha. "Como consequência, surgem um conjunto de sinais e sintomas que, para se designar de alergia, deverão ser observáveis e reprodutíveis", define Pedro Martins, imunoalergolista do Hospital Dona Estefânia e vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Imunoalergologia (SPAIC).

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As alergias que ocorrem sazonalmente nessa altura do ano coincidem com a polinização das plantas e resultam da inalação de pólenes, particularmente os das gramíneas (responsáveis pela designada, no passado, “febre dos fenos”, que atualmente tem o nome de polinose), oliveira e parietária.

As alergias próprias desta época tendem a manifestar-se sob a forma de rinite, conjuntivite ou asma (tosse, pieira e eventualmente falta de ar)”

“Relacionadas com a primavera, as alergias próprias desta época tendem a manifestar-se sob a forma de rinite, conjuntivite ou asma (tosse, pieira e eventualmente falta de ar)”, explica Pedro Martins.

As doenças alérgicas são muito comuns no nosso país, afetando cerca de um terço da população.

“Estima-se que cerca de 25 por cento da população portuguesa tenha rinite e 6,8 por cento asma” conta à MAGG Pedro Martins, vice-presidente da da Sociedade Portuguesa de Imunoalergologia (SPAIC), que esclarece que, muitas vezes, a rinite e a asma coexistem — 80 por cento dos asmáticos têm rinite e cerca de 40 por cento dos doentes com rinite têm asma.

Relativamente à alergia alimentar, a sua prevalência tem vindo a aumentar, afetando cerca de seis por cento das crianças e dois por cento dos adultos. “Já a alergia a medicamentos constitui, hoje em dia, um motivo frequente de consulta de Imunoalergologia”, afirma o especialista.

Prevenir durante o ano para não sofrer na primavera

As alergias e as suas manifestações, sejam ou não relacionadas com a primavera, podem envolver vários orgãos, sistemas e ter diferentes níveis de gravidade.

Pedro Martins salienta que os sintomas são muitos “e podem traduzir-se em espirros, nariz entupido, comichão nasal e ocular, corrimento nasal, lacrimejo, tosse, pieira, falta de ar, manifestações cutâneas como manchas, inchaço ou borbulhas na pele, bem como sintomas gerais que podem envolver vários orgãos e sistemas em simultâneo (anafilaxia) — qualquer das manifestações anteriores, vómitos e perda de conhecimento”.

Quanto às alergias especificamente relacionadas com a estação que chega terça-feira, dia 20 de março, a forma mais eficaz de nos protegermos é através de um tratamento preventivo, que deverá ser tomado antes do início e durante toda a primavera.

“Não há dúvida de que se o controle ambiental é importante nas alergias a ácaros, o controle da exposição a pólenes não é menor na primavera”, afirma Josefina Cernadas.

Para reduzir a exposição a pólenes durante a estação primaveril, o vice-presidente da SPAIC sugere evitar atividades no exterior de manhã muito cedo (altura do dia em que há uma maior concentração de pólenes), praticar desportos ao ar livre, caminhadas em grandes espaços relvados, cortar relva e arejar a casa durante o dia.

É incentivado o uso de óculos escuros na rua, andar de carro com os vidros fechados, sendo que os motociclistas devem usar capacete integral. Guardar a roupa utilizada durante o dia numa zona distinta do quarto de dormir também é um ato simples que pode ajudar a proteger-se do pólen.

“Os doentes alérgicos devem estar informados sobre as suas alergias, de modo a que possam prevenir as manifestações da doença e controlar os sintomas. Para isso, devem seguir as recomendações do médico imunoalergologista, pois só assim conseguem ter uma melhor qualidade de vida”, afirma Pedro Martins.

Pólen: o melhor aliado das alergias

Em Portugal, a polinização ocorre entre fevereiro e outubro (dependendo dos anos), com um pico de março a junho. “A questão da primavera, no que diz respeito às alergias, é ser o pico da polinização para a maioria das plantas mais alergénicas. No nosso país, as principais causas de alergia ao pólen são as gramíneas, que começam a polinizar no início da primavera e atingem o pico entre maio e junho”, salienta Josefina Cernadas, que acrescenta que os pólenes das oliveiras também são bastante alergénicos.

Em algumas zonas de clima mais frio e seco, na primavera também podem surgir sintomas relacionados com outras alergias, pois a temperatura amena promove a sua replicação."

A alergia à erva parietária, do grupo das ervas daninhas, também é frequente e tem um período de polinização que começa na primavera mas, em alguns pontos do país, repete no início do outono — o que explica o porquê de algumas pessoas terem sintomas ainda nesta altura do ano.

“Em algumas zonas de clima mais frio e seco, na primavera também podem surgir sintomas relacionados com outras alergias, pois a temperatura amena promove a sua replicação. Muitas vezes, dois tipos de alergias (ácaros e pólenes) aparecem conjugadas nesta altura”, afirma a especialista do Hospital Lusíadas Porto.

De uma forma geral, quem tiver um familiar próximo com alergias, terá maior probabilidade de vir a desenvolver uma doença alérgica.

“Estas doenças são transversais a todas as idades, começam na infância e podem ir até ao idoso”, afirma Pedro Martins, imunoalergolista, que também reconhece a carga genética das doenças alérgicas.

“A maioria das pessoas com alergias tem pelo menos um ascendente direto com história de doença alérgica”, salienta o especialista.

Para que consiga obter informação sobre os níveis de pólenes existentes na atmosfera em várias regiões do país, a Rede Portuguesa da Aerobologia da SPAIC disponibiliza semanalmente o Boletim Polínico com todos esses dados, facilmente consultado na internet.

Existe tratamento?

Como explica Josefina Cernadas, o plano terapêutico a estabelecer vai depender das manifestações clinicas envolvidas, da gravidade e da identificação do ou dos pólenes implicados como fatores desencadeadores dos sintomas.

Pedro Martins acrescenta que já existem vacinas antialérgicas, com eficácia e segurança comprovada, que permitem fazer um tratamento específico para os pólenes implicados. “Quando indicadas, reduzem de forma muito significativa e duradoura as queixas dos doentes”, afirma o imunoalergologista. No entanto, estas vacinas deixaram de ser comparticipadas pelo Serviço Nacional de Saúde desde 2011.

O tratamento específico passa sempre pela possibilidade de o doente fazer imunoterapia ao alergénio envolvido. “Na grande maioria dos casos em que esta prescrição é corretamente feita e aplicada, é muito eficaz”, salienta Josefina Cernadas, que acrescenta que a decisão deste tipo de abordagem deve ser sempre feita pelos médicos especialistas com experiência firmada nesta área.

“Aquando da decisão de iniciar este tipo de tratamento devem sempre ser pesados os fatores a favor, contra e todas as situações em que a terapia está mesmo contra indicada”.

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