A equipa nacional norte-americana de curling ganhou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Inverno em Pyeongchang, dia 25 de fevereiro. Ainda que a vitória tenha surgido como surpresa para alguns dos fãs do desporto e da seleção, não surpreendeu os fãs de "Os Simpsons", a famosa série animada que mais uma vez voltou a acertar nas previsões.

É que depois de prever a chegada de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos da América, ou a compra dos estúdios Fox pela Disney, a série de animação voltou a acertar quando, em 2010, no episódio "Boy Meets Curl" as personagens Homer e Marge Simpson subiram ao pódio da modalidade e arrecadaram a medalha de ouro após terem vencido a equipa da Suécia. Curiosamente, a mesma equipa a ser batida pela seleção norte-americana no sábado passado.

Na internet as reações não se fizeram esperar e foram vários os utilizadores que partilharam o momento em redes sociais como o Twitter ou o Facebook. Alfred Ernest Jean, um dos criadores e produtores da série, também já reagiu ao acontecimento e mostrou-se agradado com a capacidade profética da equipa de guionistas de "Os Simpsons", que tanta vez tem acertado nas suas previsões.

A literatura e a capacidade de previsão que a distingue

Mas como é possível que uma série de ficção acerte tantas vezes ao longo de vários anos? Manuel Frias Martins, escritor e antigo professor de Teoria da Literatura na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, conta à MAGG que há uma explicação muito racional detrás deste fenómeno e que vai ao encontro da velha máxima defendida por Oscar Wilde, no seu ensaio "The Decay of Lying", publicado em 1889, que dita que a vida imita a arte mais do que a arte imita a vida.

"A literatura tem um poder de previsão impressionante e o '1984' de Orwell é só o exemplo clássico do seu poder de precisão", diz Manuel, que revela não concordar com as teorias de conspiração que muitas vezes se criam em redor do assunto. Embora seja uma linha de análise possível, continua, "é evidente que será uma leitura meramente especulativa, e por isso, bastante diferente dos factos."

Para Manuel não restam dúvidas: qualquer obra de ficção cuja narrativa tenha como base uma componente humana, política e social, como é o caso de "Os Simpsons", aproxima-se da literatura na capacidade de prever o futuro. "Acredito que existe um conjunto de escritores que, estando atentos, sabem ler os sinais do seu tempo e vão avançado hipóteses especulativas" que podem ou não vir a concretizar-se.

"Havia um treinador de futebol que, em entrevistas, dizia sempre que previsões só depois do jogo", e diz Manuel que a nossa leitura é um bocadinho assim — de frente para trás, o que facilita a identificação de algumas situações curiosas como a alta taxa de previsão de "Os Simpsons" ou a curiosa aproximação social ao universo distópico de George Orwell e Aldous Huxley, autores de "1984" e "Admirável Mundo Novo", respetivamente.