Chegou a casa depois de um dia de trabalho e tudo o que quer é afundar-se no sofá a ver uma série? Nem precisa de ter muito trabalho a escolher. Fizemos esse trabalho para si. Sugerimos-lhe algumas séries da Netflix de acordo com o seu estado de espírito, desde “BoJack Horseman”, animação que retrata a vida de um cavalo alcoólico e deprimido, às peripécias de Jay Pritchett (Ed O’Neill) e companhia em “Uma Família Muito Moderna”. Pode enrolar-se numa manta e começar a ver e parar a qualquer altura sem correr o risco de perder o fio à meada.

Para desligar os neurónios e rir até cair para o lado

“Unbreakable Kimmy Schmidt”

Kimmy Schmidt (Ellie Kemper) conhece uma nova vida aos 30 anos de idade quando se consegue finalmente libertar de uma seita religiosa que a raptou e obrigou a viver com mais três mulheres durante 15 anos. “Unbreakable Kimmy Schmidt”, que estreou inicialmente na NBC e depois foi vendida à Netflix, conta já com três temporadas de 13 episódios cada.

A série acompanha a nova vida de Kimmy em Nova Iorque. Aqui, procura esquecer o passado horrível a que foi sujeita enquanto tenta ambientar-se ao estilo de vida frenético do século XXI, em que o deslumbre da liberdade aliado aos avanços tecnológicos, até então desconhecidos por ela, servem como pano de fundo para o desenrolar da história.

Os 39 episódios lançados estão repletos de humor e até de uma desconcertante leveza face à vida. Com uma duração média de 30 minutos, são uma ótima companhia para aliviar o cansaço diário de um dia de trabalho.

O que diz a crítica?

A revista The Hollywood Reporter escreve que o sucesso do projeto decorre “do trabalho surpreendente de Kemper no papel de Kimmy” e que os escritores da série “fazem um excelente trabalho em balançar as inúmeras possibilidades na vida das personagens, tornando a história muito apelativa”.

Para a revista The New Yorker, a beleza da série está na “capacidade de tornar coisas horríveis em comédia” o que, adianta, “sugere que o simples ato de sobreviver pode ser mais do deixar viver, mas uma expressão de liberdade máxima.”

“Uma Família Muito Moderna”

“Uma Família Muito Moderna” retrata o quotidiano das personagens, introduzindo muito humor e diversão à mistura. Dada a proximidade espácio-temporal que estabelece com o espectador e a honestidade das situações retratadas, é já considerada uma série de culto com dois globos de ouro e 22 Emmys arrecadados, entre inúmeros outros prémios.

A premiada sitcom da ABC conta já com 9 temporadas e 199 episódios. A premissa é simples: filmar em jeito de documentário as três famílias e a forma como estas se relacionam entre si nos subúrbios de Los Angeles.

Ainda não se sabe ao certo a data de estreia do que parece ser a décima, e última, da série. Mas não desanime: até lá ainda tem asseguradas muitas horas de bom humor  na companhia das três famílias mais divertidas da televisão.

O que diz a crítica?

A crítica Susana Romana escreve, no Observador, que a série é capaz de oferecer “ótimos diálogos, personagens consistentes e um tom muito próprio”. Afirma ainda que “reinventou o formato e assim limpou os Emmy com a primeira temporada. E com a segunda. E a terceira. E a quarta. E a quinta.”

Para o The Guardian, a série é já um clássico “ultrapassando outras séries premiadas como Glee ou 30 Rock”. O segredo está, defende, “no formato sitcom e no tipo de filmagem que remete para os documentários”.

Para uma sessão de introspeção no sofá

“BoJack Horseman”

Um cavalo que fala. Uma gata, e agente publicitária, que manteve uma relação com três miúdos encavalitados uns em cima dos outros por baixo de uma gabardine (como se de um homem adulto se tratasse). Todd (Aaron Paul), um jovem de 24 anos, que apareceu para uma festa em casa do amigo cavalo e que desde então nunca mais saiu. São estas algumas das personagens centrais da série de animação da Netflix[3]  que estreou em agosto de 2014.

“BoJack Horseman” tem BoJack (Will Arnett) como protagonista principal: um cavalo que ficou milionário após a participação num programa de televisão em meados de 1990. Apesar do sucesso, o programa terminou após nove temporadas e BoJack vive agora sozinho em Hollywood, amargurado e frustrado por não conseguir replicar o sucesso de antes.

Agarrado ao álcool e deprimido por ver a sua vida relegada à insignificância, BoJack procura um novo propósito enquanto lida com a espiral de pensamentos destrutivos e ações caricatas que o colocam em constantes aventuras.

A série aborda temáticas como a humanidade, o amor e o desamor, a tristeza, a violência e a atualidade com uma frieza única, e conta já com quatro temporadas de 12 episódios cada. Todas com episódios de duração inferior a 30 minutos.

O que diz a crítica?

O crítico Rodrigo Nogueira, no Público, escreve que “ainda não houve uma má época da série cómica animada sobre um cavalo que foi estrela de sitcom nos anos 90 e hoje, acabado, é um misantropo alcoólico".

No Expresso, João Miguel Salvador diz que “a linguagem gráfica aproxima-se da apresentada em diversos sucessos como ‘Family Guy’, mas aqui a estrela é uma personagem invulgar. O cavalo-meio-homem é a alma do espetáculo.”

“Master of None”

Se passou ao lado de “Master of None” esta é a melhor altura para saltar a pés juntos para a série de Aziz Ansari. Com duas temporadas de dez episódios cada, traça uma fiel representação do que é ser adulto nos tempos modernos.

Dos desamores, passando pelas irritaçõezinhas sem importância do quotidiano e culminando com temas tão atuais como a xenofobia e o racismo, “Master of None” é uma das melhores séries a que deve estar atento. Não só pela maneira como faz uso do humor para lidar com os dilemas que vão servindo como fio condutor para o desenrolar da história, mas também pela forma como Aziz Ansari, criador e protagonista, dá vida à personagem de Dev, incorporando nela toda a fragilidade humana que nos é inerente.

A segunda temporada estreou em maio de 2017. Ao The Hollywood Reporter, Ansari afirma que “ainda há muitas ideias por explorar” na vida de Dev e que “gostaria de dar seguimento aos acontecimentos da segunda temporada, embora não tenha uma data prevista para tal.”. Continuaremos à espera, mas até lá, vá por nós e delicie-se com os 20 episódios que tem à sua disposição.

O que diz a crítica?

Para a TimeOut, a segunda temporada representa “a experiência do ator ao trocar Nova Iorque por Itália” e afirma que “no meio de tanta oferta, esta série de comédia é um título obrigatório a ver.”

A revista Variety defende que “o segredo de ‘Master of None’ está na complexidade dos elementos estéticos que emprega e pelo comentário pertinente que oferece acerca da vida humana e das experiências que partilhamos enquanto seres universais.”

Para meter a cabeça a trabalhar e pensar até lhe dar o sono

“Black Mirror”

“Black Mirror” mostra-nos um futuro em que a tecnologia avançou anos-luz e como a sua má utilização pode levar a consequências graves nas vidas de todos nós.

Nesta série britânica há um pouco de tudo: desde uma sociedade que atribui papéis aos indivíduos através das pontuações que estes obtêm nas relações que estabelecem com os outros (uma espécie de Instagram aplicado à vida real em que popularidade é igual a relevância) a um futuro em que a tecnologia avançou de tal forma que, um simples dispositivo instalado na retina de alguém permite a reprodução contínua de memórias da sua vivência desde o seu nascimento.

O forte da série está no facto de oferecer nova história e novas personagens a cada episódio, pelo que não depende de uma visualização à risca e sequencial de episódios anteriores. A quarta temporada estreou na Netflix a 29 de dezembro de 2017, e conta com seis episódios.

O que diz a crítica?

O crítico André Almeida Santos, no Observador, escreve que “todos os episódios de ‘Black Mirror’ são uma forma diferente de contar a mesma coisa, reconhecendo que a proximidade com certas criações que já aconteceram no universo faz parte da mensagem geral da série.”

Para o The Guardian a série promete “momentos tensos de pânico e ansiedade em que o objetivo é fazer o espectador pensar.”

“Ozark”

Imagine uma mistura entre “Breaking Bad” e “Bloodline” onde há droga, crime, reviravoltas surpreendentes e muita ação. Julgava impossível? Pense novamente. “Ozark” estreou a julho de 2017 e foi já considerada uma das melhores séries do ano.

O primeiro episódio começa a um ritmo frenético e dá-nos a conhecer a história de Marty Bryde (Jason Bateman), um simples consultor financeiro que, para pagar uma dívida a um traficante de droga mexicano, se vê obrigado a mudar-se com a sua família para Ozarks, em Missouri.

Desde mostrar os princípios básicos da lavagem de dinheiro à forma como Marty vai conseguindo sobreviver devido aos seus esquemas cuidadosamente engendrados, Ozark oferece uma enorme dose de intriga e adrenalina para todos os amantes de séries de ação rompante.

Enquanto não chega a segunda temporada, a estrear em meados de 2018, fique com os 10 episódios iniciais e acredite que não se vai arrepender.

O que diz a crítica?

A crítica Maria João Monteiro escreve, no Público, que “Ozark anda entre o thriller psicológico e o drama familiar para mostrar um mundo noir em que a ambição e a ganância se misturam – sem deixar de abordar as dificuldades da classe média norte-americana no contexto sócio-económico atual.”

Para o jornal New York Times a série “ressuscita o mito Walter White e a raiva decorrente de promessas quebradas à boa maneira americana.”

Para quem gosta de cowboys, gangsters e conflitos de época

“Peaky Blinders”

“Peaky Blinders” é a série perfeita para quem procura uma boa dose de ação e drama entre grupos de gangsters rivais. Aqui, ao invés do sublime diálogo que esconde uma ameaça ou um aviso, parte-se diretamente para o conflito à verdadeira maneira inglesa, com punhos e navalhas.

Estamos em 1919, logo após a primeira guerra mundial, e o conflito opõe os criminosos de fato e boinas com lâminas afiadas, a outras facções criminosas ou até mesmo à polícia. O gangue Peaky Blinders é liderado por Thomas Shelby (Cillian Murphy), o chefe implacável mas complexo.

Com quatro temporadas disponíveis na Netflix, é uma das séries a não perder. A quinta temporada estreará em meados de 2019.

O que diz a crítica?

Para o jornal New York Times, a série “é fabulosa e literal a nível estético, não só na forma como demonstra a vida em Birmingham em 1919, mas também na caracterização de gangsters bem-parecidos numa espécie de novela ao estilo de ficção científica.”

Para o The Guardian, esta é “uma das melhores séries do momento, garantindo horas de divertimento puro em frente à televisão.”

“The Crown”

Aqui não há tiros, ação ou adrenalina. Mas há a história de uma das figuras incontornáveis da realeza britânica. “The Crown” acompanha a vida de Isabel II (Claire Foy), desde o início do reinado com apenas 25 anos de idade.

Pode esperar um pouco de tudo nesta nova produção da Netflix, desde intriga política ao mais simples mexerico entre criadas ou membros da realeza. “The Crown” conta já com duas temporadas e há planos para estender a série até aos dias de hoje sobre aquele que é o reinado mais longo de sempre em Inglaterra.

A segunda temporada estreou em dezembro de 2017 e ainda não há data prevista para uma nova temporada.

O que diz a crítica?

Para André Almeida Santos, do Observador, a série “reformula o contexto pop de Isabel II e é uma delicia de se ver” já que, continua, “poucas séries históricas conseguem transcender o ‘conta-me como foi’ e justificar o seu lugar no presente.”

O crítico Jorge Mourinha, do Público avisa que “não valerá a pena ir ver ‘The Crown’ à procura de uma roda reinventada já que é, afinal, a boa velha qualidade britânica que aqui se joga, impecável nas reconstituições de época e no altíssimo nível médio das interpretações.”

Para entender os dramas dos millennials

“The End of the F***ing World”

A nova série britânica é uma comédia negra que está a deliciar os críticos internacionais. “The End of the F***ing World” retrata a ligação entre dois adolescentes que nutrem um completo desdém pelo mundo, Alyssa (Jessica Barden) e James (Alex Lawther).

São os dois estudantes da mesma escola que odeiam. Ele confessa-se um psicopata e incapaz de sentir emoções tal como outros as sentem. Com 17 anos e farto de matar animais, decide que Alyssa será a sua próxima vítima. Ela apaixona-se por ele e convence-o a acompanhá-la na busca pelo seu pai biológico.

O sarcasmo e a ironia marcam a série rica em diálogos  hilariantes e sinistros. A primeira temporada estreou na Netflix a 5 de janeiro e conta com oito e curtinhos episódios – menos de 30 minutos cada.

O que diz a crítica?

A revista Vulture sublinha que “a série oferece várias reviravoltas interessantes e que o facto de os episódios serem inferiores a 22 minutos é uma mais valia num mercado dominado pela obsessão do binge-watch.”

Já a revista The Hollywood Reporter afirma que “esta é uma das séries mais imprevisíveis de 2017 e que, só por isso, merece a consideração de todos nós.”

“Por Treze Razões”

Baseada no livro de Jay Asher, “Por Treze Razões” conta-nos a história de Hannah (Katherine Langford), uma rapariga de liceu que decide suicidar-se explicando os motivos em cassetes previamente gravadas e distribuídas por alguns dos alunos da escola.

A série acompanha Clay (Dylan Minnette) enquanto ouve as cassetes e tenta desvendar o mistério que envolve a morte da amiga. A narrativa não é linear, tem flashbacks contínuos para a vida de Hannah e divide-se em 13 episódios, o número de cassetes com que ela se despediu.

A série esteve envolvida em grande polémica: foi acusada de trivializar a questão do suicídio e de poder ter um efeito nocivo em jovens mais frágeis que estejam a passar por dilemas similares aos retratados na série.

Num painel de discussão promovido pela revista “Variety”, Tom McCarthy, que se junta à restante equipa como realizador para a segunda temporada, justificou-se perante as críticas dizendo respeitar as opiniões de todos, mas que “talvez devêssemos ouvir as pessoas que lideram as audiências” e que, continua, “se os jovens querem ter esta discussão, talvez estejam a dizer-nos algo.”

A primeira temporada estreou em março de 2017.

O que diz a crítica?

Maria João Monteiro, crítica do Público frisa que a série “retrata a pressão social da adolescência e contextualiza o cyberbulling, a depressão, o abuso físico e psicológico” e por isso, continua, “promete ser o ponto de partida para uma maior discussão entre os pais e os adolescentes sobre os temas abordados”

Já a revista The New Yorker considera que “a série poderá ter o efeito contrário daquele que tenta combater: ao invés de incentivar o diálogo, incentivado adolescentes a procurar ajuda, poderá levá-los ao limite através da glorificação do suicídio como único escape possível.”