Hoje em dia já passamos mais tempo a olhar para ecrãs do que a dormir. Vários estudos demonstraram esta tendência, mas se tem dúvidas basta parar uns segundos e pensar nas suas próprias rotinas. Qual é a primeira coisa que faz quando acorda? Muito provavelmente, desliga o despertador do telemóvel.

De seguida, enquanto toma o pequeno-almoço ou vai a caminho do trabalho nos transportes públicos, é provável que consulte as redes sociais, o email, ou sites de notícias no ecrã do seu smartphone. Quando chega ao emprego, se é que não se senta em frente a um ecrã a trabalhar o resto do dia, pelo menos consulta novamente emails no computador e antes que o dia termine, já em casa, aproveita as últimas horas de sossego para ver uma série no seu tablet.

Estes hábitos são comuns a muitos de nós e comprovam que passamos grande parte do nosso dia a olhar para vários ecrãs diferentes que possuem uma característica comum: a luz que todos emitem.

Menos luz para uma melhor pele

Aproximadamente 25 por cento da luz branca visível é de cor azul. Dentro do espectro de raios azulados que a compõem existem distintos tons, com diferentes comprimentos de onda. A High Energy Visible Light (HEV), também apelidada de luz azul, “é caraterizada por maiores frequências e menores comprimentos de onda, na zona do azul/violeta”, explicou à MAGG Rui Tavares Bello, médico dermatologista.

A luz azul é a que tem o comprimento de onda mais curto, logo mais energia - e a alta energia pode provocar fadiga e stress visual, entre outros problemas. Viaja num comprimento semelhante ao das radiações UV, é encontrada na luz do sol e em luzes artificiais, mas está também presente nos ecrãs que fazem parte do nosso quotidiano, desde as televisões aos tablets, ou smartphones.

"O uso de protetores solares de gama alta deve ser encorajado.", Rui Tavares Bello, dermatologista

Para além de prejudicar o ciclo de sono, através de alterações secundárias na produção de melatonina, a radiação presente na luz azul afeta a produção de colagénio e acelera o processo de oxidação, o que pode resultar em problemas de hiperpigmentação e inflamações. A falta de colagénio, que naturalmente já é produzido em menos quantidade à medida que envelhecemos, também pode causar irritações na tez.

Apesar dos efeitos prejudiciais da emissão de luz azul através da tecnologia ainda carecerem de mais investigação científica, a verdade é que até já existem produtos e linhas de cuidados de rosto especificamente pensados para combater a poluição urbana e as emissões de radiações HEV, entre outros fatores.

Evite a luz azul

Proteja a sua pele alargando ao inverno os cuidados de verão. “O uso de protetores solares de gama alta deve ser encorajado. Estes produtos fornecem uma proteção apropriada contra os comprimentos de onda da radiação que, comprovadamente, têm um efeito indutor do cancro cutâneo, do fotoenvelhecimento e das pigmentações anómalas patológicas. Adicionalmente, têm na sua composição ingredientes que protegem a pele também de parte importante do espectro visível”, refere Rui Tavares Bello.

Existem ainda outros gestos para se resguardar destas radiações: coloque uma película no ecrã do telemóvel e do tablet, já que, para além de protegerem os aparelhos de eventuais danos e riscos, também protegem a sua pele; instale filtros de luz azul, que ajustam a cor do ecrã para diminuir cansaço visual e perturbar menos a qualidade do seu sono (existem vários disponíveis para sistemas Android e iOS na Play Store e App Store, por exemplo,) ou diminua o grau de luminosidade dos aparelhos e evite a exposição a estes ecrãs momentos antes de dormir.

Sente a cara quente? Desligue a chamada

Já lhe aconteceu sentir a face muito quente durante uma longa chamada ao telemóvel? Se sim, saiba que o calor excessivo que é emitido pelo aparelho atrapalha a produção de melanina e pode resultar no surgimento de manchas no rosto. O contacto frequente do telemóvel com a cara pode ser responsável por dermites de contacto, dado que os smartphones estão expostos a todo o tipo de bactérias e sujidade (basta pensar na quantidade de vezes que pousa o telemóvel em dezenas de superfícies diferentes), e existem constituintes metálicos presentes nos metais e capas de couro muitas vezes utilizadas nos aparelhos, como o níquel e o crómio, e também os componentes de borrachas que podem ser agentes.

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Em pessoas com pele sensível, este contacto pode até “agravar doenças pré-existentes como a dermite seborreica, acne, rosácea ou mesmo desencadear reações de intolerância de tipo alérgico ou irritativo”, salienta o especialista.  Evite colocar o telemóvel em superfícies nos locais públicos, tenha sempre toalhitas à mão para o desinfetar e, em chamadas longas, dê preferência ao uso do auricular.

Cuidado com a flacidez

O habitual gesto de olhar para baixo enquanto enviamos mensagens ou verificamos as redes sociais coloca cinco vezes mais peso gravitacional na pele do pescoço e coluna,  diz uma investigação de 2014 publicada na 25ª edição da Surgical Technology International’s. As repetições constantes deste gesto podem resultar na perda de elasticidade da pele nesta zona e consequente flacidez (vulgo, papo), adianta o estudo.

Olhar muito para baixo pode causar perda de elasticidade da pele no pescoço

Para combater estes efeitos e prevenir o envelhecimento da pele do pescoço e do decote, os dermatologistas recomendam o uso de cremes com atividade emoliente, hidratante e tensora, habitualmente à noite, reservando para a manhã a aplicação de produtos com atividade fotoprotetora. “Ingredientes como antioxidantes, alfa-hidroxiácidos, retinóides e ácido hialurónico são dos mais usados para o efeito”, conclui Rui Tavares Bello.

(artigo atualizado em novembro de 2022)