A banana, a maçã, a pêra ou a manga são ricas em micronutrientes. São também alimentos energéticos, pela presença dos hidratos de carbono e da frutose. Fazem parte crucial de uma dieta saudável com vários benefícios para o organismo. Isto são factos nutricionais, estudados, testados e comprovados.

Mas o universo da alimentação também está cheio de mitos. Suspeitas fazem notícias, que circulam nas redes sociais. O público lê, acredita e é capaz de adotar novos hábitos, apesar de não haver bases científicas que sustentem estas teorias. A era da internet trouxe o acesso à informação, mas também está na origem de falsas crenças e da confusão na esfera da nutrição.

Por isso, e com a ajuda da nutricionista Maria João Ibérico Nogueira, autora do livro “Dieta à sua Medida”, desmontamos nove.

Mito 1: devemos comer fruta de estômago vazio

Segundo a teoria, por conter fibra, a fruta atrasa a digestão e pode levar a que os alimentos fermentem e apodreçam no estômago. Não é verdade: “A acidez do nosso estômago impede a fermentação dos alimentos. Há bactérias que conseguem sobreviver à sua passagem (por isso é que apanhamos intoxicações alimentares) mas, devido ao seu pH ácido, nenhuma, exceto a Helicobacter Pilory, consegue fermentar. É a nossa barreira protectora.”

A fermentação pelas bactérias intestinais acontece, sim, no intestino, quer seja com a fruta ou com qualquer outro alimento. E isto é positivo, é o funcionamento normal do organismo, mesmo que cause algum tipo de desconforto como gases. “Seja antes, durante ou depois das refeições, é importante comer fruta de forma regular. Ingerimos fibra e vitaminas. Só traz benefícios”, acrescenta.

Mito 2: não devemos comer fruta depois da refeição

São muitas as teorias sobre o consumo de fruta à hora da refeição. Há vantagens específicas em qualquer momento: antes da refeição, poderá ajudar a estabilizar o apetite, levando a um consumo mais controlado do almoço ou do jantar; durante, poderá substituir uma fonte de hidratos de carbono; depois, poderá acalmar a vontade por uma sobremesa, substituindo opções cheias de açúcar e de gordura. E em todos poderá ser benéfico para a digestão, dependendo da fonte seleccionada.

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Mito 3: não podemos combinar certos tipos de fruta

Há as frutas ácidas, as sub-ácidas e as doces. Um dos mitos diz-nos que há combinações erradas e que misturar citrinos com ameixas ou figos, por exemplo, não é uma boa ideia porque o organismo pode reagir mal. Se até hoje andou a seleccionar meticulosamente a fruta que levava na lancheira, esqueça: não há bases científicas que comprovem a existência de combinações certas ou erradas.

A combinação do ácido e do doce poderá ter efeitos negativos apenas para quem sofre de problemas de estômago, como azia ou refluxo.

Maria João Ibérico Nogueira reforça a ideia de que consumir fruta é bom e deve acontecer de forma regular, e apostando na diversidade, de forma a tirar partido dos benefícios únicos de cada uma.

Mito 4: a fruta não engorda

Claro que engorda. A fruta tem calorias. Como tal, em excesso, poderá levar ao aumento de peso ou estagnação num processo de emagrecimento: “Se, em substituição de um pão, comermos quatro maçãs, não vemos resultado nenhum porque não fazemos nenhuma restrição calórica que nos permita perder peso.”

Mito 5: o ananás antes da refeição emagrece

Nenhuma fruta tem o poder de emagrecer. O que acontece é que há frutas mais ricas em fibra, que “seja antes, durante ou depois da refeição, poderá diminuir a absorção de gordura”, apesar de isto “não estar 100% estudado”. Ou seja, qualquer fruta com quantidades elevadas deste micronutriente, como a papaia, o kiwi ou a laranja, vão conseguir este mesmo efeito.

Mito 6: a banana ajuda a dormir melhor

O mito apoia-se no facto de a banana ser rica em triptofano, um aminoácido que é convertido em serotonina, um neurotransmissor responsável por baixar a ansiedade e aumentar a sensação de relaxamento. A banana é rica em magnésio, potássio e fibra e deve fazer parte de uma dieta. Mas não há bases científicas suficientes que sustentem a crença de ela interferir com a qualidade do sono. A quantidade de triptofano é elevada, mas não deverá ser suficiente para “ter este efeito ansiolítico”, refere.

Mito 7: as frutas mais coloridas são as mais saudáveis

Não é por ter uma cor mais forte que uma fruta é mais saudável do que a outra. Porque, como explica a nutricionista, “cada cor corresponde à presença de um nutriente e, por isso é que o prato deve ser o mais colorido possível.”

Um alimento vermelho, como o morango ou tomate, é rico em licopeno, um antioxidante que ajuda a proteger as células. O roxo significa que estamos perante uma fonte rica em vitamina B1, importante para o metabolismo da glicose. O amarelo simboliza o betacaroteno, um composto que é convertido em vitamina A.

Mito 8: a fruta biológica tem mais nutrientes

A fruta biológica é recomendada porque é a mais natural. Contudo, isto não é o mesmo do que dizer que ela é mais nutritiva: “Não tem mais antioxidantes ou mais fibra”, explica. “Mas também não tem a parte química que não faz bem à saúde”, acrescenta.

Mito 9: comer laranja à noite faz mal

“Contrariamente ao ditado popular ‘de manhã é ouro, à tarde prata e à noite mata’, a laranja pode ser consumida a qualquer hora, seja de noite ou de dia”, explica.  “No entanto, para quem é frágil de estômago, deve evitar consumir em jejum ou isolada, devido à sua acidez”, acrescenta.

Idealmente, deverá ser consumida o mais fresca possível para tirar proveito de todos os benefícios nutricionais, sobretudo da vitamina C.

*Este texto foi originalmente publicado em 2018 e adaptado em março de 2023.