Num vídeo em que não explicita sequer o partido pelo qual é candidata ao Parlamento Europeu, Joana Amaral Dias diz que não consegue "ficar calada". Assume-se como "alternativa", diz que vai "denunciar lobbies e negociatas" dos "donos disto tudo". A apresentação oficial da candidatura da psicóloga às europeias de 10 de junho acontece esta quinta-feira, 18 de abril, na Associação de Deficientes das Forças Armadas, em Lisboa.

De acordo com o "Expresso", a antiga deputada do Bloco de Esquerda (cargo que exerceu entre 2002 e 2005) é cabeça de lista do ADN às eleições europeias de 9 de junho. O partido Alternativa Democrática Nacional, liderado por Bruno Fialho, é de direita conservadora, podendo ser considerado de extrema-direita.

Natural de Coimbra, a psicóloga de 50 anos tem uma extensa e polémica carreira política. Militou e foi deputada do Bloco de Esquerda, partido do qual se desfiliou em 2014. Antes disso, foi mandatária para a Juventude de Mário Soares, nas presidenciais de 2009. Um convite do PS para as legislativas de 2009 provoca cisões entre a psicóloga e a cúpula do Bloco de Esquerda, o que culminou no seu afastamento. Nos últimos 10 anos, Joana Amaral Dias tem tentado, através da associação a partidos e movimentos, conquistar um cargo político, sempre sem sucesso. Foi candidata às legislativas de 2015 pela coligação MAS-PTP e, em 2017, à câmara municipal de Lisboa pelo Nós, Cidadãos!.

Tanto no programa político como no programa eleitoral apresentado para as legislativas de 10 de março, o ADN tem posições políticas e ideológicas que vão ao encontro das que têm sido, nos últimos anos, defendidas por Joana Amaral Dias, sobretudo nas posições que tem tomado nas redes sociais. A comentadora do grupo Media Capital (TVI e CNN Portugal) assume um ideário anti-globalista, fala de um "tratado pandémico" e tem posições de questionamento das alterações climáticas.

Outrora membro de um partido de esquerda, a psicóloga e comentadora defende agora os ideais do ADN, que quer "combater em todas as frentes, a corrupção, a inflação programada dos globalistas, a destruição do ensino, a pedofilia, a destruição da família, a destruição do nosso património e da nossa história", como pode ler-se no site.

O que defende, afinal, o ADN?

Em 2006, antes do referendo que ditaria a legalização da interrupção voluntária da gravidez em Portugal, Joana Amaral Dias escrevia no "DN": " Independentemente da posição individual de cada cidadão sobre a IVG, o que vai ser referendado é a liberdade de escolha. Por isso mesmo, voto 'sim', independentemente da minha convicção pessoal".

Passaram-se 18 anos e, agora, a psicóloga candidata-se por um partido que defende que devem ser as mulheres a pagar do próprio bolso a intervenção voluntária da gravidez quando esta acontecer "por mera opção". O mesmo se aplica, como se lê no programa eleitoral que o ADN apresentou nas passadas legislativas de 10 de março, "às cirurgias de mudança de sexo".  Na prática, o que o ADN propõe, embora não explicitamente, é uma reversão disfarçada da atual lei, impondo o custo da intervenção às mulheres.

Ainda no campo da saúde, o ADN quer impor taxas a "situações clínicas que resultem de opção por parte do doente", como o tabagismo e alcoolismo, além da já supracitada interrupção voluntária da gravidez por opção da mulher.

Revogar o Novo Acordo Ortográfico, combater a alegada "fraude climática", "eliminar o certificado digital de vacinação e recusar a obrigatoriedade de vacinação da COVID-19", "impedir qualquer proibição de pagamento em dinheiro-papel", "recusar atribuir automaticamente a nacionalidade portuguesa a criança nascida em território nacional filha de ambos os pais estrangeiros", defesa da "prestação pelos jovens de um Serviço Cívico ao País como opção ao Serviço Militar Obrigatório" são propostas apresentadas pelo Alternativa Democrática Nacional.

O ADN defende ainda a polémica "teoria da substituição" (comum ao ideário da extrema-direita), como se pode ler neste ponto: "Apenas dois países na União Europeia garantem a substituição de gerações: Irlanda e França, sendo que na França existe o problema de substituição da população europeia por outros povos, pelo que, devemos ter em atenção em não cometer os mesmos erros dos franceses que são facilmente identificáveis".

No campo da família, natalidade e parentalidade, existem trechos ambíguos, como este: "aos jovens faremos, também, a pedagogia da honestidade e da honradez por contraposição ao egoísmo e oportunismo que tão disseminados estão na vida política, sobretudo na atuação dos dirigentes políticos e partidários".

O partido pelo qual Joana Amaral Dias se candidata faz ainda uma associação entre famílias monoparentais e saúde mental. "Na primeira década do século também as famílias monoparentais aumentaram 36%, e são agora cerca de meio milhão, das quais 86% constituídas por mães e filhos. Todas estas mudanças, que julgamos irreversíveis, com as fragilidades que as acompanham, tornam os agregados familiares em potenciais fatores de risco no campo da saúde mental, sobretudo para a mulher e para os filhos. O que deve merecer a atenção dos serviços públicos, médico-sociais, nesta área". 

A psicóloga foi, durante vários anos, com o filho mais velho, Vicente, de 29 anos, uma família monoparental. Joana Amaral Dias é casada desde 2022 com Pedro Pinto, com quem tem dois filhos: Luz, de 8 anos e Dinis, de 7.